Menos de um ano antes das eleições, o governador Ratinho Junior (PSD) sustenta um amplo favoritismo para garantir mais quatro anos de titularidade no Palácio Iguaçu. Sem sobressaltos no primeiro mandato, as forças políticas interpretam que há pouca margem para impedir a quarta eleição consecutiva em primeiro turno na sucessão estadual. A percepção se sustenta, segundo fontes ouvidas pela FOLHA, por uma série de razões: o controle da máquina pública; o amplo apoio da Assembleia e da maioria dos prefeitos; e a tradição do eleitorado paranaense em preferir oito anos de governo - após 24 anos do instituto da reeleição todos os governadores obtiveram o aval popular para o segundo mandato (Jaime Lerner, Roberto Requião e Beto Richa).

Mas as certezas não vão muito além disso na atual pré-campanha.

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| Foto: Arnaldo Alves/AEN

“Há uma extrema indefinição e o quadro vai permanecer assim nos próximos meses. A instabilidade na política nacional está protelando as decisões dos líderes partidários e as composições dos palanques”, observa um assessor com larga experiência nos corredores da Assembleia, epicentro das especulações sobre o jogo político na capital.

Para desenhar a estratégia da campanha, partidos e postulantes precisam entender de forma mais clara como está o tabuleiro da corrida presidencial. E é neste ponto que a nebulosidade aumenta.

“As candidaturas da chamada terceira via são lançadas semanalmente e nenhuma delas empolgou a opinião pública por um único motivo: o baixo potencial de dialogar com as massas”, afirma um experiente marqueteiro político.

Enquanto o ex-presidente Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas com alguma folga e a popularidade do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encolhe, o terço do eleitorado disponível para a ascensão do segundo desafiante ainda não se deixou seduzir por nenhum nome, de acordo com as últimas sondagens. Dos mais antigos - Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) - aos mais novos - Eduardo Leite (PSDB), Rodrigo Pacheco (DEM), Alessandro Vieira (Cidadania), José Luiz Datena (PSL) e Simone Tebet (MDB), a lista de pré-candidatos é ampla e abrangente. Os bastidores estão agitados, com jantares ora leves, ora indigestos, com apostas variadas. “É um campeonato de carisma, já que a terceira via sabe que os comandantes da polarização têm isso de sobra. O que se presume é que apenas um grande acordo entre eles poderia gerar uma candidatura competitiva, com a distribuição dos preteridos no palanque do vencedor em cada um dos estados”, afirma um líder partidário.

FATOR MORO

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| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Um dos mais controversos da lista centrista é o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Fernando Moro. Apadrinhado por Alvaro Dias (Podemos), o presidenciável também é cotado como candidato ao Senado (há quem diga que pode ser por São Paulo) e como postulante ao Palácio Iguaçu. A sua aventura eleitoral começa este mês, com evento de filiação ao Podemos marcado para o dia 10 em Brasília. A partir daí começa um período de avaliação que pode começar a decifrar o quebra-cabeça eleitoral no Estado.

Um eventual impacto positivo no lançamento da candidatura ao Planalto, com ascensão nas pesquisas, sacramentaria sua posição de desafiante ao presidente Bolsonaro. Caso isso não ocorra, há alguma chance de que ele participe de um palanque ao lado de outro candidato de centro tentando outro cargo.

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| Foto: Carolina Antunes/PR

Pouca gente acredita, no entanto, que Alvaro Dias deixe de concorrer à Câmara Alta. Nos últimos três pleitos com apenas uma vaga, ele foi o mais votado em todos e seria um favorito natural para garantir mais oito anos de mandato.

"No entanto, o ambiente parece cada vez mais hostil aos candidatos tradicionais, como mostrou a vitória de Oriovisto Guimarães (Podemos), um empresário que não tinha trânsito na política. Este é o mesmo eleitorado que volta às urnas no ano que vem. Outra particularidade é que nos últimos anos Álvaro teve baixa exposição, especialmente com a ascensão do bolsonarismo e com o ocaso da Lava Jato”, afirma o cientista político Elve Cenci, da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

O enigma sobre o potencial de Moro na disputa nacional e sua impossibilidade em participar de palanques com Lula ou Bolsonaro embolam ainda mais o jogo.

Sem a composição com Ratinho, o candidato apoiado em 2018 e que deve ter Bolsonaro no palanque, o Podemos pode ser obrigado a lançar candidatura própria, com expectativas reduzidas.

“É preciso entender que os partidos perderam relevância no jogo político. As pesquisas internas reafirmam isso: o que importa realmente são as ideias, os alinhamentos com as figuras mais conhecidas e a própria personalidade do candidato”, avaliou um deputado estadual. “É por isso que muitos interessados vão usar todo o prazo legal para decidirem por qual legenda vão concorrer. A instabilidade aumenta o risco de uma escolha antecipada”, afirmou uma fonte ligada ao marketing político.

FATOR REQUIÃO

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| Foto: Eduardo Matysiak/Futura Press/Folhapress

Outro personagem-chave da eleição 2022 é o ex-governador Roberto Requião. A candidatura ao Palácio Iguaçu está praticamente definida, embora não esteja descartado um embate retrô com Alvaro pelo Senado. O ex-governador tem percorrido o Estado para medir sua força na empreitada. Após sair do MDB, a agremiação que o abrigou por mais de 40 anos, a “caravana” tem o objetivo de construir uma frente política capaz de ameaçar Ratinho Junior. A escolha do partido está sendo protelada, mas a costura com o PT, do amigo Lula, estaria avançando. É cogitada também uma filiação ao PDT e o apoio à candidatura Ciro Gomes. “Porém, as falas do Ciro têm incomodado por um certo destempero e agressividade”, disse uma fonte ligada ao ex-governador.

Única liderança progressista que já exerceu cargos importantes no Estado, Requião tenta se recuperar do revés de 2018, quando tentou a recondução ao Senado e obteve pouco mais de 15% dos votos.

Para analistas, a perda de capital político do curitibano pode ter sido circunstancial e há uma chance do eleitorado observá-lo como principal opositor a Ratinho Jr. durante a campanha. Nesta tese, a performance de Lula pode galvanizar sua candidatura e mobilizar uma parte dos bolsonaristas decepcionados, eventualmente insatisfeitos com o apoio do governador paranaense ao presidente.

Enquanto monitora as articulações dos oposicionistas para construir uma candidatura forte, Ratinho Jr. deve postergar ao máximo uma de suas decisões mais estratégicas. O candidato do Palácio Iguaçu ao Senado deve ser uma das decisões derradeiras no quadro pré-eleitoral. O fator Moro parece deixar este assunto em compasso de espera no PSD. Por enquanto, um dos postulantes mais ativos é um nome palaciano muito próximo do governador. Trata-se do seu chefe da Casa Civil, Guto Silva (PSD), que está com a agenda tomada por encontros com prefeitos no interior.