O município de Caturama, na região da Chapada Diamantina Meridional, na Bahia, não tem cesta básica nem leite; não tem água encanada e muito menos esgoto; quase 40% dos pais de família migraram para São Paulo e deixaram os parentes à espera de notícias. A renda per capita, o indicador mundial para se medir a riqueza de um país ou de uma região, é de R$ 1,80, o preço de dois refrigerantes.
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) arrecadado pelo Fisco de Caturama em abril foi de R$ 861,32, pouco mais de sete salários mínimos. O analfabetismo é de 38,4% e o mal de Chagas ainda arrasa a população rural, tendo sido encontrado em habitantes de 48 localidades, conforme dados da Fundação Nacional de Saúde (FNS). No campeonato dos miseráveis, Caturama ocupa o quarto lugar.
Os números sobre a pobreza extrema do município são claros e estão registrados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, por força de manobras políticas, a cidade nasceu ‘‘rica’’. Os dados fornecidos à Assembléia Legislativa da Bahia, em 1989, para a emancipação de Caturama do município de Botuporã, apontavam para uma população com alta renda, para uma arrecadação auto-suficiente de impostos, para minerais em abundância e agricultura. Nada era verdade.
Desde que tomou posse, em janeiro, o prefeito Salomão Pereira Fernandes (PTB) tenta provar que a cidade pode ser inscrita no Mapa da Fome do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), do Ministério do Planejamento, e que eram fajutos os documentos fornecidos pelos políticos para que Caturama fosse emancipada. Para provar o que dizia, Salomão pediu ajuda ao deputado Mário Negromonte (PSDB-BA) e os dois foram atrás dos dados certos, no IBGE.
Depois de receber a papelada provando que Caturama não era rica e sim, paupérrima, Salomão resolveu procurar o programa Comunidade Solidária, sempre na companhia de Mário Negromonte. Ele não conseguiu nada ainda, mas acha que poderá obter uma resposta em breve. ‘‘O que vier é lucro’’, disse o prefeito à Agência Estado, por telefone, na sexta-feira. ‘‘Se conseguirmos a cesta básica já será um grande avanço’’.