Câmara de Curitiba apura conduta de vereador em ato em igreja
Comissão de Ética do legislativo analisa quatro representações contra Renato Freitas (PT) por participação em manifestação em missa
PUBLICAÇÃO
sábado, 12 de fevereiro de 2022
Comissão de Ética do legislativo analisa quatro representações contra Renato Freitas (PT) por participação em manifestação em missa
José Marcos Lopes/Especial para a Folha

A Mesa Diretora da Câmara Municipal de Curitiba admitiu nesta semana quatro representações, por suposta quebra de decoro parlamentar, contra o vereador Renato Freitas (PT), suspeito de participar da invasão à Igreja do Rosário, no Centro Histórico da capital paranaense, no último sábado (5), durante uma manifestação contra o racismo. O processo será analisado pela Comissão de Ética e Decoro da Câmara, que terá o prazo de 90 dias para se manifestar. Desde sábado, Freitas e outra vereadora que participou do ato, Carol Dartora (PT), vêm recebendo ameaças e ofensas racistas.

O caso ganhou repercussão depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) compartilhou o vídeo do ato e determinou que dois ministérios (Justiça e Direitos Humanos) investigassem o protesto. Freitas nega que a igreja tenha sido invadida, pois a porta lateral estava aberta, e diz que a missa já havia acabado. O vídeo gravado por uma câmera da igreja mostra que o padre Luiz Hass encerrou a missa por causa do protesto e que o local estava vazio quando os manifestantes entraram. Após um pequeno ato, ao lado do padre, eles deixaram a igreja.
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“Analisamos cinco representações (contra Renato Freitas) e entendemos que ficaram demonstrados os requisitos mínimos para admitir quatro delas”, afirmou à FOLHA o presidente da Câmara de Curitiba, vereador Tico Kuzma (Pros). “Assim como apoiamos as manifestações pacíficas, não compactuamos com qualquer violação das liberdades religiosas e da liberdade de culto”. A Comissão de Ética poderá arquivar o processo ou recomendar censura pública, suspensão das atividades parlamentares ou cassação do mandato.
A assessoria de Renato Freitas disse à reportagem que o vereador ainda não foi notificado da decisão e que ele não falaria sobre o assunto.
OFENSAS E AMEAÇAS
Na sessão plenária de segunda-feira (7), a vereadora Carol Dartora mostrou reproduções de ofensas racistas e ameaças recebidas após participar do ato. “Você não dura dois meses”, dizia uma das mensagens. “Não entrei na igreja, mas não condeno a indignação de quem entrou”, disse a vereadora. “Tem muita distorção, a igreja não foi invadida, as pessoas entraram pacificamente e não quebraram nada. Essa repercussão toda mostra que tem algo estranho. É um ano eleitoral e aproveitaram para polarizar”. Primeira vereadora negra de Curitiba, Dartora vem recebendo ameaças desde o início do mandato.
A assessoria de Renato Freitas também confirmou que ele vem recebendo ameaças. Em uma rede social, um participante compartilhou fotos do vereador com ofensas e o texto “Vocês sabem bem como é que se combate essa turma e não é no campo da ideia”.
O presidente da Câmara, Tico Kuzma, determinou que a Procuradoria da Casa fique à disposição dos dois parlamentares. “Hoje no Brasil há um clima de confronto e de radicalização e precisamos fazer um alerta para que as pessoas, ao questionarem os fatos, não cometam crimes como racismo ou ameaça”, afirmou.
Vereador fala em ato pacífico; arcebispo vê atitude agressiva
Ante a repercussão dos atos promovidos no último sábado (5) na Igreja do Rosário, no Largo da Ordem, centro histórico de Curitiba, tanto o vereador Renato Freitas (PT) como o arcebispo metropolitano da capital, dom José Antonio Peruzzo, se manifestaram por meio de notas divulgadas já na segunda-feira (7).

O vereador disse que a entrada no templo ocorreu de forma pacífica, com a igreja já vazia, e o arcebispo considerou que os manifestantes incentivaram comportamentos invasivos e desrespeitosos.
Renato Freitas iniciou a nota relatando que o ato do qual participou no sábado em frente à Igreja do Rosário havia sido organizado pelo Coletivo Núcleo Periférico, contra o racismo, a xenofobia e pela valorização da vida, em memória do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho, homens negros assassinados no Rio de Janeiro nos últimos dias.
“O local do ato foi escolhido por sua relação histórica com a população negra curitibana. A Igreja, inaugurada em 1737, foi construída por e para pessoas escravizadas, uma vez que negros e negras não poderiam entrar em outras igrejas de nossa cidade", afirmou o vereador na nota.
Ele disse que durante o ato um diácono responsável pela igreja solicitou que os manifestantes fossem para outro local, sob a justificativa de que a manifestação não deveria coincidir com a saída dos religiosos da missa que havia se encerrado.
“Como parte simbólica da manifestação, entramos juntos na Igreja que estava vazia, de forma pacífica, relembrando que nenhum preceito religioso supera o amor e a valorização da vida", escreveu o petista. “Pacificamente, assim como entramos na igreja, saímos e seguimos com a manifestação, reivindicando políticas públicas para imigrantes e de combate ao racismo na cidade", prosseguiu.
O vereador encerrou a nota dizendo que “nos surpreende perceber que exaltar o amor e a valorização da vida em uma igreja causa mais indignação que o assassinato brutal de dois seres humanos negros no Brasil.”
NOTA DA ARQUIDIOCESE
Já a nota enviada pela Arquidiocese de Curitiba, assinada pelo arcebispo metropolitano dom Antonio Peruzzo, afirmou que “solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, líderes do grupo de manifestantes incentivaram comportamentos invasivos e desrespeitosos”. “Infelizmente, o que houve no último sábado foram agressividades e ofensas. É fácil ver quem as estimulou. A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a Lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer 'politizar', 'partidarizar' ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo”, disse o comunicado. (Reportagem Local)
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