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Política 5m de leitura

Câmara aprova projeto inconstitucional sobre 'lockdown' no comércio

Matéria determina que prefeitura se reúna com representantes do setor antes de definir medidas restritivas por conta da Covid-19

ATUALIZAÇÃO
08 de fevereiro de 2022

Guilherme Marconi - Grupo Folha
AUTOR

A Câmara Municipal de Londrina aprovou nesta terça-feira (8), em segundo turno, o projeto de lei que determina que a Prefeitura realize reunião com entidades de classe que representam empregadores e sindicatos de empregados antes de restringir o funcionamento de estabelecimentos por causa da Covid-19. Mesmo sendo considerado inconstitucional pela análise do departamento jurídico da Casa, a matéria de autoria da vereadora Jessica Moreno, a Jessicão (PP), recebeu 17 votos favoráveis e apenas um contrário, que foi da vereadora Lenir de Assis (PT).

Os vereadores da Câmara Municipal de Londrina se reuniram na tarde desta terça-feira (8) para a 3ª sessão ordinária de 2022, com transmissão ao vivo pelas mídias sociais do Legislativo.
 

O projeto de lei vai contra entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal), que já havia decidido por unanimidade em 2020 que prefeitos e governadores têm autonomia na gestão da pandemia por se tratar de caráter sanitário e saúde pública. "A matéria extrapola os limites da competência legislativa e viola a regra de reserva de iniciativa", escreveu o advogado Rafael Balarotti, assessor jurídico da Câmara.  

EMBASAMENTOS

Conforme a proposta, a reunião precisa ser realizada entre 96 horas e 48 horas antes de qualquer determinação de fechamento ou restrição de horário de atendimento. Ao analisar o mérito, o jurídico também pontuou que ao delimitar o prazo de 48 horas o projeto poderá "revelar morosidade incompatível com o caráter calamitoso da situação a ser guarnecida". O projeto ganhou um substitutivo amenizando alguns termos.

Segundo o texto de Jessição, antes de decidir por uma medida restritiva o prefeito deverá convocar empresários cujas atividades serão afetadas pelo decreto, além de três parlamentares da Câmara Municipal, designados pelo presidente do Legislativo. Ainda de acordo com o PL, a reunião deverá ser gravada e transmitida em tempo real, via rede mundial de computadores, possibilitando a participação e manifestação dos representantes de forma presencial e virtual. No encontro, deverão ser apresentados os embasamentos técnicos e científicos de saúde pública que justifiquem a decretação das medidas.

"É necessário que tenha essa reunião para que os comerciantes e empresários possam se preparar com tempo hábil. Vai fechar? Tudo bem, com os estudos comprovando a necessidade de fechar. Só que daí essas pessoas não estocam, não investem o seu capital de giro em cima de estoque. O projeto vem para respeitar o comerciante e o empresário da cidade de Londrina caso novamente nossos políticos queiram implementar um novo lockdown", defendeu a vereadora Jessicão. Ainda segundo a parlamentar, o projeto foi apresentado no começo do ano passado, mas dificuldades políticas acabaram atrasando a tramitação.

Vice-líder do prefeito na Casa, o vereador Matheus Thum (PP) justificou que votou favorável ao citar que a atual gestão sempre teria proposto o diálogo com todas as entidades dos segmentos afetados pelos decretos restritivos. "Algumas entidades não quiseram ouvir, mas o diálogo sempre houve, participei de diversas reuniões e todas as decisões tomadas pela prefeitura foram justamente para proteger a população. Logicamente, um dia saberemos quem estava certo ou não, mas o que foi feito foi prezar pela vida da população."  O projeto segue agora para sanção ou veto do prefeito Marcelo Belinati (PP).

MEIO AMBIENTE

Também nesta terça os vereadores aprovaram, com 16 votos, o projeto da vereadora Lenir de Assis, que institui em Londrina as Soluções Baseadas na Natureza (SBN) para enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo a vereadora, as SBN são ações que utilizam recursos naturais para a solução de problemas urbanos, como calor excessivo, insegurança alimentar e impermeabilização do solo. "O que precisamos é investir em projetos inovadores, inteligentes, que visem ao aproveitamento da natureza", afirmou. Entre essas ações, Lenir citou as hortas urbanas, os corredores verdes e os jardins de chuva, utilizados no município de São Paulo para reter água e minimizar os efeitos de enchentes e alagamentos.

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