A ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSB), que está se especializando em fazer suspense sobre seu projeto político, surgiu com uma novidade ontem. Lançou, em São Luís (MA), a tese de que é chegada a hora de as mulheres terem uma candidata à Presidência da República. A ex-prefeita disse que não irá postular a honraria, mas também não descartou a hipótese. ‘‘Por que não?’, despistou, ao ser questionada se estava disposta ao sacrifício.
SopaposPois bem. Dois dias depois de ter chamado de ‘‘pornográfico’’ o aumento dos juros provocado pela crise das bolsas e profetizado que esse aumento levaria à recessão e ao desemprego, o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf formaliza o seu apoio e do PPB à reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso e anuncia que seu projeto político imediato é retornar ao comando do governo do mais poderoso Estado da federação.
Deixando de lado essa pequena incoerência e essa brusca mudança de posição, a adesão de Maluf ao projeto eleitoral de Fernando Henrique - formalizado ontem de manhã, quando os dois desjejuaram no Palácio da Alvorada - consolida o acordo que vinham costurando há meses, desde o sigiloso jantar, no mesmo palácio, que tanta e justa dor-de-cotovelo provocou no governador de São Paulo Mário Covas.
E o acordo, sem meias palavras, resume-se nisso: Covas, aliado de primeira hora do presidente e patriarca dos tucanos, foi lançado aos leões em troca do apoio de Maluf à reeleição de FHC e da isenção deste na campanha para o governo de São Paulo no ano que vem. O alinhamento incondicional do PPB às propostas do governo que tramitam no Congresso é apenas o corolário.
Política e pragmatismo caminham de braços dados, mesmo - ou principalmente - quando um amigo tenha que ser deixado para trás. Em nome do interesse nacional, que necessariamente inclui sua reeleição, Fernando Henrique dá as costas a Covas. Mas o governador de São Paulo já não avisou que não concorreria à reeleição? Sim, mas quem acredita nisto, diante do ritmo vertiginoso de suas viagens ao interior, da sucessão sem fim de inaugurações, das manifestações de apoio, que sempre lhe roubam um sorriso maroto, à sua permanência no poder por mais quatro anos?
Pragmatismo é isso aí e algo mais: por mais obras que tenha realizado, por mais transparente que seja sua administração, Mário Covas não anda bem das pernas nas pesquisas de intenção de voto. Os paulistanos há muito tempo estão enfeitiçados pelo charme de Maluf, que há mais de um ano se mantém na liderança de todas as pesquisas. Por que, então, Fernando Henrique se arriscaria a dar o aval à candidatura de Covas, que tem tudo para naufragar?
Para o projeto de reeleição de FHC, o alinhamento de Maluf é mais que bem-vindo e chegou, como diriam os antigos, no momento azado. Os ecos do crash das bolsas de valores ainda ecoam pelo país afora e mantêm aturdidos não só o presidente e sua equipe econômica mas também seus adversários políticos - que torcem às escondidas para a vaca ir para o brejo para que eles tenham a oportunidade de dar o pulo do gato.
Com Paulo Maluf e o PPB a seu lado, Fernando Henrique tira do páreo um adversário em potencial e enfraquece o poder de fogo de seus adversários reais. Com Maluf de olho apenas no governo de São Paulo, os votos que os paulistanos poderiam lhe dar no caso de uma aventura presidencial deverão migrar para FHC - que, assim, aumenta suas chances de quitar a fatura logo no primeiro turno.
Por que não?