Em meio à escalada judicial contra Jair Bolsonaro (PL), uma manifestação neste domingo (25) na avenida Paulista, em São Paulo (SP), deve ser uma tentativa de demonstração de força e capital político por parte do ex-presidente da República. O próprio Bolsonaro, em um vídeo divulgado nas redes sociais, pediu concentração apenas em São Paulo.

“Eu quero me dirigir às pessoas que não podem comparecer porque moram muito longe, não têm meios, e é plenamente justificado. Vou apelar: não façam movimentos em outros municípios”, disse o ex-presidente.

Na avaliação do professor de Ética e Filosofia Política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Clodomiro José Bannwart Júnior, Bolsonaro está produzindo um movimento político e criando holofotes para uma tentativa de resistência junto ao seu público.

“Na condição de investigado, porém, ele poderá falar pouco, pois já não dispõe mais de condições de atacar as instituições, o Judiciário e a democracia, como fazia no passado para a turba do seu cercadinho”, afirma Bannwart Júnior. “Avalio que a falta de compreensão do ex-presidente Jair Bolsonaro da dimensão republicana da política e do papel das instituições deixa uma marca de decepção para a sociedade. Na condição de ex-presidente e de investigado por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, Bolsonaro deixa muito a desejar.”

O professor também acredita que o ato pode trazer mais impactos negativos para o ex-presidente, que é investigado em várias ações.

Nas redes sociais, Jair Bolsonaro pediu para que seguidores não façam ato em outros municípios
Nas redes sociais, Jair Bolsonaro pediu para que seguidores não façam ato em outros municípios | Foto: Alan Santos/ PR

“Talvez, de todas elas, a mais impactante seja a de tentativa de golpe contra o Estado de Direito. Então, por sensatez, não lhe caberia realizar um evento público para defender, segundo ele ‘o nosso Estado Democrático de Direito’, que é justamente o que ele atacou em boa parte do seu mandato, e as investigações têm mostrado isso”, aponta.

“O ato de amanhã (domingo) é um contrassenso. Caso ele venha a ser preso, deixará sua base ideológica sem uma liderança de alcance popular, porém, ao que parece, abrirá espaço para direita que ainda preza pela democracia se refundar”, completa.

O professor não acredita que esse movimento pode acirrar os ânimos e manter uma polarização Lula-Bolsonaro. "A direita precisa se reinventar dentro de parâmetros democráticos e o legado do Bolsonaro, a indicar as investigações da PF, não contribui para que liberais e conservadores avancem em suas pautas, respeitando e fazendo respeitar as regras democráticas."

‘AGLUTINAR PESSOAS’

Já para o cientista político e professor da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), Mário Sérgio Lepre, o ex-presidente ainda tem como “trunfo” a capacidade de aglutinar pessoas.

“Então, é pouca coisa que está restando a ele, porque você tem um movimento que, a impressão que eu tenho, vai cerceando todas as possibilidades políticas dele”, pontuando que a “democracia exige a liberdade para que você tenha as disputas políticas”.

“Essa é a democracia que hoje existe no Brasil, que eu diria que já não é uma democracia. A democracia tem que aceitar a competição plena. É uma das bases da ideia de democracia”, avalia Lepre, que cita que são criados subterfúgios para tentar impedir Bolsonaro, como a decisão de inelegibilidade.

Para o professor, o fato de centralizar o ato na avenida Paulista é uma forma de evitar qualquer tumulto. Mas, não descarta a possibilidade de “infiltrados” instigando brigas, por exemplo.

De olho nas eleições municipais, Lepre acredita que há um movimento para retirar o ex-presidente da articulação política. “Já retirou. Quando você impede ele de conversar com o presidente do PL [Valdemar Costa Neto], de uma certa forma você já complica para as eleições de 2024”, acrescenta.

E, às vésperas do pleito, a tendência é a continuidade de uma polarização Lula-Bolsonaro, avalia. “O Brasil percebeu a dicotomia, coisa que antes não havia. E não havia porque você não tinha diferenças significativas, tanto que o vice-presidente hoje [Geraldo Alckmin] é um cara que disputava contra”, completa.

LIDERANÇAS

À FOLHA, o deputado federal Filipe Barros (PL) reforça que o ato será exclusivo em São Paulo e garante que “qualquer movimentação em outro município será alheia à agenda na capital paulista”. Ele também confirmou sua presença na manifestação.

“Assim como centenas de lideranças políticas, estarei no ato não só para externar meu apoio a Jair Bolsonaro"afirma o deputado Filipe Barros (PL)
“Assim como centenas de lideranças políticas, estarei no ato não só para externar meu apoio a Jair Bolsonaro"afirma o deputado Filipe Barros (PL) | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

“Assim como centenas de lideranças políticas, estarei no ato não só para externar meu apoio a Jair Bolsonaro, mas também para manifestar aos brasileiros a vitalidade e resistência das nossas bandeiras: Deus, Pátria, Família e Liberdade”, afirma.

Já o deputado estadual e presidente do PT-PR, Arilson Chiorato, avalia que o ato é irresponsável. “Agora, resolveu dizer que vai fazer uma manifestação pacífica, defendendo o ato democrático e pedindo para ninguém levar cartaz contra as instituições. É uma mentira, porque ele vinha fazendo esse movimento lá atrás”, diz.

“Eu acho que ele (Bolsonaro)  está fazendo esse movimento para tentar se salvar, inclusive. Ele está tentando criar resiliência”, avalia Arilson Chiorato (PT)
“Eu acho que ele (Bolsonaro) está fazendo esse movimento para tentar se salvar, inclusive. Ele está tentando criar resiliência”, avalia Arilson Chiorato (PT) | Foto: Orlando Kissner/ Alep

“Eu acho que ele está fazendo esse movimento para tentar se salvar, inclusive. Ele está tentando criar resiliência”, pontuando que o ato pode radicalizar o processo eleitoral “ainda mais”. “A gente vai ter uma eleição mais polarizada, na minha avaliação.”