O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (30) que a atual legislatura no Congresso Nacional está melhor que a anterior e por isso não vão permitir que o governo Lula faça "o que bem entender com o destino da nossa nação".

Bolsonaro também disse que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está "por pouco tempo no poder". "Eu lembro lá atrás quando alguém criticava o Parlamento, Ulysses Guimarães dizia: 'espera o próximo'. Dessa vez, o próximo melhorou e muito. O Parlamento nos orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal que, por ora, pouco tempo, está no poder, eles não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa nação", afirmou.

Bolsonaro deu as declarações ao chegar para evento na sede do PL, em Brasília, seu primeiro compromisso após retornar dos Estados Unidos. O ex-mandatário deixou o aeroporto e seguiu direto para a sede do partido, para encontrar correligionários. A pedido de Bolsonaro, o evento não foi aberto à imprensa. "Na semana que vem, Jair Bolsonaro assume formalmente a função de presidente de honra do Partido Liberal e deverá despachar normalmente em seu escritório", informou o PL em nota.

O ex-presidente desembarcou na manhã desta quinta-feira (30) em Brasília, após uma temporada de 89 dias nos Estados Unidos. Ele chegou por volta de 7h, em um voo comercial que havia partido de Orlando no fim da noite de quarta.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal preparou um esquema de segurança especial para a chegada do ex-presidente.

JOIAS SAUDITAS

Mais tarde, em entrevista a rádio Jovem Pan, o ex-mandatário afirmou que recebeu presentes de elevado valor da Arábia Saudita por causa de sua relação de amizade que construiu com o mundo árabe. E ainda completou afirmando que "eles têm dinheiro, pô".

"Agora [são] joias caras? Sim, caríssimas, até pela relação de amizade que eu tive com o mundo árabe", afirmou o ex-mandatário, em entrevista à rádio Jovem Pan. O ex-presidente reconheceu pela primeira vez que as joias vindas da Arábia Saudita eram para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e que ele tentou reavê-las. No entanto, ressalta que "não foi na mão grande".

"Entregamos ali o primeiro conjunto que chegou na Presidência. Cadastrei. E, tentando recuperar o outro conjunto da Michelle, foi via ofício, não foi na mão grande. Não sei porque essa onda toda. Se estão achando isso como algo que eu fiz errado eu fico até feliz, não tem do que me acusar", afirmou.

Questionado na sequência sobre qual motivo para os árabes darem um presente de R$ 16 milhões, Bolsonaro disse que "eles têm dinheiro" e que é um "prazer deles" presentear. Bolsonaro se defendeu da acusação de que teria se apropriado dos presentes oficiais, argumentando que todos já estavam cadastrados pela presidência da República. "Quem classifica se é acervo pessoal ou público não sou eu. Tem um pessoal na presidência da República, são servidores de carreira que classificam. E na lei fala que eu posso até usar, não posso vender. Mas, como criou-se o problema, estou à disposição. E o TCU [Tribunal de Contas da União] disse por liminar que eu poderia ter a posse dessas joias. Depois foi julgada essa liminar na frente, ela caiu. Qual a decisão final? As joias foram entregues para a Caixa Econômica Federal e as duas joias foram entregues para a Polícia Federal", afirmou o ex-presidente, emendando que só ficou chateado por precisar devolver o "HK", o fuzil que recebeu de presente, argumentando que é apaixonado por armas.

This handout picture released by the Brazilian Liberal Party shows former Brazilian President Jair Bolsonaro (R) gesturing during a meeting with the party's lawmakers at the Liberal Party headquarters in Brasilia on March 30, 2023. - Three months after leaving for the United States in the final hours of his term, Brazil's ex-president Jair Bolsonaro returned home Thursday to reenter politics -- complicating life for his successor and nemesis, Luiz Inacio Lula da Silva. The far-right ex-army captain, who skipped town two days before Lula's inauguration on January 1, arrived back in Brasilia on a commercial flight from Orlando, Florida. (Photo by Handout / Liberal Party / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / BRAZILIAN LIBERAL PARTY" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
This handout picture released by the Brazilian Liberal Party shows former Brazilian President Jair Bolsonaro (R) gesturing during a meeting with the party's lawmakers at the Liberal Party headquarters in Brasilia on March 30, 2023. - Three months after leaving for the United States in the final hours of his term, Brazil's ex-president Jair Bolsonaro returned home Thursday to reenter politics -- complicating life for his successor and nemesis, Luiz Inacio Lula da Silva. The far-right ex-army captain, who skipped town two days before Lula's inauguration on January 1, arrived back in Brasilia on a commercial flight from Orlando, Florida. (Photo by Handout / Liberal Party / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / BRAZILIAN LIBERAL PARTY" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS | Foto: Handout/Liberal Party/AFP

O retorno de Bolsonaro ao país acontece em meio à polêmica das joias vindas da Arábia Saudita, caso que vem provocando desgaste à imagem do ex-presidente, que também pode ser responsabilizado judicialmente.

Nesta quarta-feira (29), o ex-presidente e seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, foram intimados pela Polícia Federal a depor sobre o caso. Os depoimentos foram marcados para o dia 5 de abril.

Por meio de seus advogados, Bolsonaro entregou na sexta-feira (24) à Caixa Econômica Federal em Brasília parte das joias que recebeu de presente da Arábia Saudita em 2021. O kit inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard.

No mesmo dia, um kit de armas foi entregue à Polícia Federal, também por determinação do TCU. O tribunal ainda determinou que o conjunto de joias e relógio avaliado em R$ 16,5 milhões que seria para a ex-primeira-dama, retido pela Receita no aeroporto de Guarulhos (SP) em 2021, também seja enviado à Caixa. (Com Marianna Holanda/Folhapress)

EX-PRESIDENTE DIZ NÃO TER MOTIVOS PARA SE TORNAR INELEGÍVEL

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira (30) que não há motivos para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) torná-lo inelegível ao julgar a série de ações que tramitam contra ele. "A questão do Tribunal Superior Eleitoral os advogados do partido estão tratando. Não vejo materialidade em nada. A ação mais forte contra mim é uma reunião que fiz com embaixadores em meados do ano passado. Não vejo motivo para me julgar inelegível por causa disso", afirmou o ex-mandatário em entrevista á rádio Jovem Pan.

No TSE, das 16 ações que tramitam contra Bolsonaro, duas têm como alvo principal os ataques ao processo eleitoral e às urnas.

A principal delas foi apresentada pelo PDT e tem como foco a reunião com embaixadores protagonizada pelo então presidente em julho de 2022, na qual ele repetiu teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas e promoveu ameaças golpistas.

O ex-presidente também voltou a defender os militantes que participaram dos atos golpistas de 8 de janeiro, que resultaram na invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. E pediu a instalação de uma comissão parlamentar mista de inquérito para investigar o episódio.

"Somos um movimento espontâneo por parte da população que resolveu ir para porta do quartel por questão se segurança. O episódio do dia 8 vai ser esclarecido via CPMI [Comissão Parlamentar Mista de Inquérito], que num primeiro momento Lula e seus políticos queriam. Conseguiram assinatura. Bem, poucos dias depois viram que não foi bem assim aquela história [e por isso desistiram]. A CPMI vai trazer a verdade e mostrar o que aconteceu", afirmou o presidente.

"O nosso pessoal não fez nada, no meu entender, que fugiu da lei. Tinham pessoas que participavam daqueles eventos. Agora, por que o PT, o governo, não quer CPMI? O que tem a temer? Tem documentos, ou não tem? Documentos da Abin ou da PF? A PRF acompanhou no começo de janeiro as movimentações pelo Brasil ou não?", completou.

O presidente foi questionado sobre o uso por parte da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional. O caso foi revelado pelo jornal O Globo.

Bolsonaro reconheceu que seu governo operou o sistema, mas buscou atribuir a responsabilidade para o governo Michel Temer, que adquiriu o sistema.

"Há poucos dias me acusaram de eu ter manipulado, bisbilhotado 10 mil pessoas pela máquina da Abin. Essa máquina da Abin foi comprada no governo Temer. Ela tem capacidade de monitorar os sinais telefônicos. Isso talvez tenha sido usado pela Abin, talvez isso tenha sedimentado o estudo para os órgãos de segurança", afirmou o presidente. (Renato Machado/Folhapress)

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