BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira (11) que gastou R$ 739 mil com seu cartão corporativo em operação de resgate de 34 brasileiros que estavam em Wuhan, na China, onde foram registrados os primeiros casos de coronavírus.

A despesa, feita em fevereiro, foi contabilizada no sistema do governo em março, mês em que o presidente teve seu maior gasto desde o início do mandato com o cartão corporativo: de R$ 1,9 milhão. A despesa mensal também foi a maior já lançada no Portal da Transparência.

O recorde anterior era da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em outubro de 2014, quando foi gasto R$ 1,6 milhão, em valores atualizados pela inflação do período. Como a lista de gastos não é divulgada, não é possível saber o peso de cada atividade nas contas mensais.

"Três aviões da Força Aérea Brasileira foram à China buscar brasileiros que estavam em Wuhan. Na operação, foram gastos R$ 739.598 com cartão corporativo", escreveu Bolsonaro nas redes sociais. "Ao contrário do noticiado, retirando despesas extraordinárias, nossos gastos seguem na média de anos anteriores", afirmou.

O gasto com a operação de resgate foi registrado em reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada no domingo (10), a qual mostrou, com base em dados oficiais, que as despesas com cartão corporativo da Presidência da República têm sido maiores na atual gestão do que nas duas anteriores: de Michel Temer (MDB) e de Dilma Rousseff.

No governo atual, gastou-se, em média, R$ 709,6 mil por mês, o que representa uma alta de 60% em relação ao governo do emedebista e de 3% em comparação com a administração da petista.

No mês de fevereiro, além da despesa com a operação de resgate, o presidente viajou para São Paulo, Rio de Janeiro e Pará. No Carnaval, ele se deslocou a Guarujá, cidade do litoral paulista.

Apesar da afirmação de que os gastos seguem na média de outros anos, desde outubro tem havido crescimento nas despesas com cartão corporativo da Presidência da República. O dispositivo foi criado em 2001 para cobrir despesas de urgência pela compra de produtos e serviços ou pela cobertura de gastos de viagens.

Até agora, em menos de dois anos de mandato, Bolsonaro já fez 13 viagens internacionais. Além de cumprir com agenda oficial, ele costuma frequentar, nas horas livres, restaurantes, pontos turísticos e áreas de comércio dos países visitados.

Antes de assumir o governo, a equipe de Bolsonaro chegou a avaliar o fim desses cartões, que desencadearam um escândalo político com auxiliares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os cartões corporativos, porém, ainda continuam funcionando.

No discurso que fez após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, há duas semanas, Bolsonaro citou iniciativas que ele diz ter tomado para evitar gastos excessivos do dinheiro público e para "dar exemplo".

"Na vida de presidente, eu tenho três cartões corporativos, dois são usados para despesas, as mais variadas possíveis. Afinal de contas, mais de cem pessoas estão na minha segurança diariamente. Despesas de casa, normal", disse.

O presidente disse que não usou até o momento o terceiro cartão corporativo a que tem direito e afirmou que mudou o cardápio da residência oficial. Mas esses gastos são sigilosos.

Disse ainda que desligou o aquecedor da piscina do Palácio da Alvorada para diminuir o gasto. Só que ele é solar, não elétrico.

Em agosto do ano passado, Bolsonaro prometeu mostrar aos veículos de imprensa o extrato de seu cartão corporativo pessoal, mas até hoje não o fez.