Bolsonaro depõe à PF em apuração sobre fraude em cartão de vacinação
Esta é a terceira vez que ex-presidente presta esclarecimentos às autoridades policiais neste ano
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terça-feira, 16 de maio de 2023
Esta é a terceira vez que ex-presidente presta esclarecimentos às autoridades policiais neste ano
Marianna Holanda/Folhapress
Brasília - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento na tarde desta terça-feira (16) à Polícia Federal, em Brasília, no âmbito da investigação sobre fraude em carteiras de vacinação no sistema do Ministério da Saúde. Ele chegou à sede da PF por volta das 13h30, e, segundo pessoas do entorno do ex-presidente, o depoimento durou cerca de três horas.
Esta é a terceira vez que ele presta esclarecimentos às autoridades policiais neste ano. A primeira oitiva foi em 5 de abril, a respeito do caso das joias recebidas de autoridades da Arábia Saudita, e a segunda em 26 de abril, sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro.
No início de maio, no âmbito da apuração sobre os cartões de vacina, a PF realizou operação de busca e apreensão na casa de Bolsonaro em Brasília e prendeu três dos seus principais auxiliares: Mauro Cid, Max Guilherme e Sergio Cordeiro.
O ex-ajudante de ordens Cid, apesar de não integrar oficialmente a equipe de assessores a que Bolsonaro tem direito como ex-presidente, é considerado o braço direito dele por sua fidelidade e proximidade. Na semana passada, o advogado Rodrigo Roca deixou a defesa de Cid e foi substituído por Bernardo Fenelon, que tem publicações sobre delação premiada.
Ainda assim aliados de Bolsonaro demonstram confiança de que Cid não fará colaboração. A expectativa é que ele admita culpa no esquema de inserção de dados fraudulentos sobre vacinação.
De acordo com a Polícia Federal, os alvos da investigação são suspeitos de realizar inserções de informações falsas no sistema da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. O objetivo era que os beneficiários pudessem emitir certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos.
Segundo interlocutores, a principal tese da defesa será negar qualquer relação com a adulteração do cartão de vacina de Bolsonaro.
PF questiona Bolsonaro sobre troca de mensagens com golpista
São Paulo - A Polícia Federal questionou Jair Bolsonaro (PL) sobre mensagens golpistas que teriam sido enviadas diretamente a ele pelo militar da reserva e ex-deputado estadual Ailton Barros (PL-RJ). O ex-presidente depôs nesta terça (16) no inquérito que apura fraudes em seu cartão de vacina.
A PF quebrou o sigilo telemático do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o coronel Mauro Cesar Cid.
Com isso, identificou prints enviados por Ailton Barros a Cid que seriam de mensagens que ele teria enviado a Bolsonaro, identificado como o contato "PR01".
No texto que Ailton disse a Cid ter enviado ao "PR01", ele teria informado a Bolsonaro que grupos golpistas tentaram sondá-lo para saber a postura de Bolsonaro a respeito de um movimento que estaria sendo organizado para o dia 31 de março de 2022.
A ideia seria acampar em Brasília "até os 11 ministros do STF saírem de suas cadeiras!". Ailton afirma que tinha dado "uma desculpa" para encerrar a ligação.
E seguiu: "Dá pra operar nestes Gp(s) [grupos] para as pautas deles serem do meu interesse. Ex: pau no corno do Xandão sempre [referindo-se a Alexandre de Moraes]; bicha velha pelancuda na questão das urnas eletrônicas; impeachment do corno do Xandão que está engavetado no Senado. Coloco nas pautas. Se quiser dou uma esticada aí acerto estas pautas e libero...".
Em outra mensagem ao "PR01", Ailton diz: "Bom dia! PR quer que eu ligue ou já safou?". Na mensagem seguinte, escreve: "Apaguei pq já peguei orientação com o Cidinho".
Bolsonaro afirmou à PF que mantinha contatos esporádicos com Ailton que se intensificavam apenas em época de eleições.
Respondeu também que não participou ou orientou qualquer ato de insurreição ou subversão contra o Estado de Direito, e que não tinha conhecimento de qualquer "orientação" feita por Mauro Cid a Ailton Barros.
Bolsonaro afirmou desconhecer ainda que Ailton estivesse tentando tramar um golpe para mantê-lo no poder, e afirmou que o ex-candidato não "possui liderança para arregimentar pessoas para qualquer ato".
Disse também que não concordava com tratativas nesse sentido. (Por Mônica Bergamo/Folhapress)

