BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta segunda-feira (6) que o ex-ministro da Justiça e potencial adversário nas eleições de 2022, Sergio Moro, atuou contra portarias para flexibilizar o armamento.

"Como é que o cara aceita trabalhar comigo sabendo que eu sou armamentista e depois trabalhar contra? Ele trabalhou contra muito tempo, descobri mais tarde. Tem que ter caráter, né: 'Olha, não me interessa trabalhar, porque sou de esquerda'", disse o presidente a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

Esta não foi a primeira vez que Bolsonaro atacou Moro por conta da questão de armas. Na live da última quinta (2), o presidente elegeu o ex-juiz da Lava Jato como alvo e fez menções discretas sobre seu novo partido, PL.

Na ocasião, o chefe do Executivo disse que Moro é contra armas, faz campanha a presidente "na base da mentira", além de "papel de palhaço".

Desde sua posse, o presidente já editou 31 atos, entre decretos, portarias e dois projetos de lei para flexibilizar o acesso às armas. Destes, 25 enquanto Moro estava à frente da Justiça, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz.

Especialistas dizem que não apenas o aumento de armas e munição não diminui a criminalidade e a violência, como pode aumentá-las.

O armamento da população é uma das principais bandeiras do presidente. Na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, cujo vídeo foi divulgado por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), Bolsonaro cobrou Moro para atuar pelo armamento.

"Liberdade de expressão, livre mercado. Quem não aceitar isso está no governo errado. Espere para 22 o seu Álvaro Dias, o Alckmin, o Haddad ou talvez o Lula. Vai ser feliz com ele, pô. No meu governo, está errado", disse.

"É [para] escancarar a questão do armamento aqui. Quero todo mundo armado, que o povo armado jamais será escravizado. E que cada um exerça seu papel, se exponha", completou.

A fala de Bolsonaro ocorreu um dia antes de o governo publicar portaria aumentando o limite de compra de munição para civis com porte de arma, passando de 200 por ano para 550 por mês. O texto foi assinado por Moro e pelo então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.

A mudança acabou sendo suspensa por decisão liminar concedida em ação popular do deputado Ivan Valente (PSOL-SP). O Tribunal Regional da Terceira Região (TRF-3), depois, confirmou o parecer contrário ao governo, mantendo a suspensão da medida.

As críticas recentes do chefe do Executivo sobre o posicionamento de Moro a respeito da política armamentista vêm no momento em que o ex-juiz da Lava Jato avança sobre eleitorado bolsonarista.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, alguns integrantes da Frente Parlamentar de Segurança Pública, mais conhecida como bancada da bala na Câmara, são abertos a dialogar com Moro.

De acordo com um parlamentar, o ex-juiz não seria frontalmente contra armas, como partidos de esquerda, mas sim, defenderia seu uso sob regras.

A bancada da bala tentou dar sustentação a pautas de Moro, quando ele enfrentava um Congresso hostil diante da sua atuação na Operação Lava Jato.