Citado em matéria de rede nacional como um dos deputados com prestação de contas com gasto de combustível fora da realidade, o deputado federal Boca Aberta (PROS) nega ter cometido irregularidades. Na noite de domingo (18), o programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu uma reportagem citando gastos exorbitantes de parlamentares. Entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020, a despesa foi de mais de R$ 367 milhões. Apenas em relação aos combustíveis, foram gastos mais de R$ 27 milhões. O levantamento foi feito pelo Instituto OPS (Observatório Política Supervisionada), que fiscaliza os gastos com o dinheiro público, sobretudo da verba indenizatória dos deputados federais e senadores.

Imagem ilustrativa da imagem Boca Aberta rebate acusação de gasto irregular com combustível
| Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Boca Aberta aparece em uma lista de 104 deputados investigados pelo instituto independente, que encontrou supostas irregularidades após fazer auditoria em 1.863 notas fiscais com base na rígida legislação tributária e regras claras da Câmara dos Deputados que norteiam o uso dessa verba. A investigação foi batizada como Operação Tanque Furado.

A reportagem mostra que o político londrinense fez 120 abastecimentos em apenas um minuto entre as 06h23 e 06h24 do dia 1º de janeiro de 2020 em um posto em Londrina. Questionado pelo repórter, ele rebateu que os cupons foram "preenchidos de forma errada". Além de Boca Aberta, aparecem na listagem os deputados paranaenses Zeca Dirceu (PT), Evandro Roman (Patriota), Ney Leprevost (PSD), Giacobo (PR), Vermelho (PSD) e Reinold Stephanes Jr (PSD).

Procurado pela FOLHA, Boca Aberta se referiu à emissora televisiva como "Globolixo" e disse que vai acionar o veículo de comunicação na Justiça. "Vou processá-los por denunciação caluniosa", comentou. Ele reforçou a mesma versão dada ao Fantástico. "É tudo fake news. O posto onde abastecemos errou. Colocaram as requisições de dezembro de 2019 e lançaram no final daquele ano, não no momento em que o carro é abastecido".

O gerente do Posto Leblon, Ítalo Luís de Oliveira, onde o deputado abastece, na Avenida Saul Elkind, zona norte, também foi acionado pela FOLHA e confirmou a versão do parlamentar. "Gerei cupons de uma só vez no final do mês, mas pelo jeito tornou a coisa bem complicada. Não foi a pedido do parlamentar, foi um procedimento que adotamos", comentou.

MEDIDAS

Cada deputado federal tem disponíveis R$ 6 mil por mês para gastar com combustível. Os casos foram encaminhados ao MPF (Ministério Público Federal), TCU (Tribunal de Contas da União) e à Câmara dos Deputados para que as medidas necessárias sejam tomadas. "O encaminhamento ao MPF é para que acionem a Justiça, caso o órgão venha considerar as irregularidades apontadas no relatório. Para o TCU e a Câmara, exigimos a restituição dos valores utilizados e supostamente indevidos e também alterações das regras internadas de ressarcimento da verba indenizatória. Isso porque da forma que foi apresentado é bem possível que o contribuinte esteja sendo lesado por esses políticos", disse o diretor presidente do Instituto OPS, Lúcio Big, em entrevista à FOLHA.

Leia entrevista completa com o presidente do Instituto. Segundo Lúcio Big 'Dizer que não conhece a regra, não se aplica ao dinheiro público'