Boca Aberta é condenado por confusão com médicos da UPA
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segunda-feira, 05 de março de 2018
Rafael Machado<br>Grupo Folha
O ex-vereador Emerson Petriv, popularmente conhecido como Boca Aberta, foi condenado a 22 dias de prisão em regime semiaberto pela confusão protagonizada com funcionários da UPA Leste Oeste (Unidade de Pronto Atendimento), na zona oeste da cidade, em janeiro do ano passado. A sentença foi proferida na última quinta-feira (1º) pela juíza Telma Regina Magalhães Carvalho, do 5º Juizado Especial Criminal de Londrina. Apesar da condenação em primeira instância, o réu poderá responder o processo em liberdade.
Boca Aberta foi enquadrado por perturbação de sossego, estabelecido no artigo 42 da Lei de Contravenções Penais (LCP). A Justiça considerou que o crime foi cometido com "gritaria ou algazarra". Na noite do dia 11 de janeiro, o ex-parlamentar foi até a unidade de saúde alegando ter recebido denúncias de usuários sobre a demora do atendimento, que chegava a 14 horas. Acompanhado de seu advogado, ele resolveu fiscalizar o serviço pessoalmente. Ao chegar na UPA, ouviu as reclamações dos pacientes por aproximadamente 40 minutos.
Sem uma resposta da direção do local, Boca Aberta adentrou ao setor destinado aos médicos e teria verificado a falta destes profissionais. À Polícia Civil, ele negou ter gritado e atrapalhado o trabalho dos servidores municipais e disse apenas que "agiu no exercício da função de vereador". A versão foi contestada pelos técnicos de enfermagem, auxiliares administrativos e enfermeiros ouvidos pelo delegado de plantão. Todos disseram que o atendimento foi interrompido pela intervenção do ex-vereador, gravada em vídeo e divulgada em sua página oficial no Facebook.
Um dos depoentes afirmou à polícia que cinco plantonistas trabalhavam no dia. "Ele falava em voz alta e tentava olhar os consultórios. A confusão só acabou quando a Guarda Municipal chegou e encaminhou todo mundo para a delegacia", disse o servidor. Para a juíza Telma Carvalho, não há dúvidas de que Boca Aberta "ofendeu os funcionários, chamando-os de 'vagabundos', incitou populares contra o atendimento feito na UPA e causou transtorno pra quem trabalhava no momento. O que se verifica, portanto, é que o acusado pretendia chamar a atenção não por meio
da fiscalização do serviço público, mas sim pela perturbação do trabalho".
Segundo a magistrada, o comportamento do ex-vereador passou longe do esperado de um agente legislativo. "Restou comprovado que a conduta não se limitou em promover a averiguação da atuação dos servidores", concluiu. Boca Aberta não compareceu à audiência de instrução no 5º Juizado Criminal e só falou na Central de Flagrantes. Um dia depois do impasse, o Conselho Regional de Medicina e o Sindmed (Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná) emitiram uma nota de desagravo. "A grosseria, a truculência, o desrespeito e a exposição indevida dos profissionais não ficarão impunes", diz o documento.
A categoria se reuniu com a Comissão de Ética do Legislativo, que aplicou uma censura escrita. Segundo o relatório do grupo, Boca Aberta quebrou o decoro parlamentar ao agir "com excesso visível e punível". Quando teve a oportunidade de se defender das acusações, o acusado discursou contra os vereadores que receberam a denúncia. "Não aceito essa punição. É meu jeito de agir e falar. Não agredi ninguém", afirmou. Ele foi cassado em outubro de 2017 depois de promover uma "vaquinha" virtual para pagar uma multa eleitoral de R$ 8 mil. A advogada Elizabeth Nadalim disse à reportagem que não iria comentar a decisão porque ainda não tinha sido intimada.
Atualmente, o ex-parlamentar usa tornozeleira eletrônica por ter descumprido medidas restritivas de distanciamento de Mário Takahashi (PV) e Rony Alves (PTB). A defesa tenta retirar o equipamento de monitoração impetrando recursos na Justiça.