O ex-vereador Emerson Petriv, popularmente conhecido como Boca Aberta, foi condenado a 22 dias de prisão em regime semiaberto pela confusão protagonizada com funcionários da UPA Leste Oeste (Unidade de Pronto Atendimento), na zona oeste da cidade, em janeiro do ano passado. A sentença foi proferida na última quinta-feira (1º) pela juíza Telma Regina Magalhães Carvalho, do 5º Juizado Especial Criminal de Londrina. Apesar da condenação em primeira instância, o réu poderá responder o processo em liberdade.

Boca Aberta foi enquadrado por perturbação de sossego, estabelecido no artigo 42 da Lei de Contravenções Penais (LCP). A Justiça considerou que o crime foi cometido com "gritaria ou algazarra". Na noite do dia 11 de janeiro, o ex-parlamentar foi até a unidade de saúde alegando ter recebido denúncias de usuários sobre a demora do atendimento, que chegava a 14 horas. Acompanhado de seu advogado, ele resolveu fiscalizar o serviço pessoalmente. Ao chegar na UPA, ouviu as reclamações dos pacientes por aproximadamente 40 minutos.

Sem uma resposta da direção do local, Boca Aberta adentrou ao setor destinado aos médicos e teria verificado a falta destes profissionais. À Polícia Civil, ele negou ter gritado e atrapalhado o trabalho dos servidores municipais e disse apenas que "agiu no exercício da função de vereador". A versão foi contestada pelos técnicos de enfermagem, auxiliares administrativos e enfermeiros ouvidos pelo delegado de plantão. Todos disseram que o atendimento foi interrompido pela intervenção do ex-vereador, gravada em vídeo e divulgada em sua página oficial no Facebook.

Sindicato dos Médicos do Paraná cobrou providências da Câmara Municipal sobre o comportamento de Boca Aberta
Sindicato dos Médicos do Paraná cobrou providências da Câmara Municipal sobre o comportamento de Boca Aberta | Foto: Reprodução/CML


Um dos depoentes afirmou à polícia que cinco plantonistas trabalhavam no dia. "Ele falava em voz alta e tentava olhar os consultórios. A confusão só acabou quando a Guarda Municipal chegou e encaminhou todo mundo para a delegacia", disse o servidor. Para a juíza Telma Carvalho, não há dúvidas de que Boca Aberta "ofendeu os funcionários, chamando-os de 'vagabundos', incitou populares contra o atendimento feito na UPA e causou transtorno pra quem trabalhava no momento. O que se verifica, portanto, é que o acusado pretendia chamar a atenção não por meio
da fiscalização do serviço público, mas sim pela perturbação do trabalho".

Segundo a magistrada, o comportamento do ex-vereador passou longe do esperado de um agente legislativo. "Restou comprovado que a conduta não se limitou em promover a averiguação da atuação dos servidores", concluiu. Boca Aberta não compareceu à audiência de instrução no 5º Juizado Criminal e só falou na Central de Flagrantes. Um dia depois do impasse, o Conselho Regional de Medicina e o Sindmed (Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná) emitiram uma nota de desagravo. "A grosseria, a truculência, o desrespeito e a exposição indevida dos profissionais não ficarão impunes", diz o documento.

Boca Aberta foi condenado em outubro do ano passado depois de pedir dinheiro nas redes sociais para pagar uma multa eleitoral
Boca Aberta foi condenado em outubro do ano passado depois de pedir dinheiro nas redes sociais para pagar uma multa eleitoral | Foto: Reprodução/CML


A categoria se reuniu com a Comissão de Ética do Legislativo, que aplicou uma censura escrita. Segundo o relatório do grupo, Boca Aberta quebrou o decoro parlamentar ao agir "com excesso visível e punível". Quando teve a oportunidade de se defender das acusações, o acusado discursou contra os vereadores que receberam a denúncia. "Não aceito essa punição. É meu jeito de agir e falar. Não agredi ninguém", afirmou. Ele foi cassado em outubro de 2017 depois de promover uma "vaquinha" virtual para pagar uma multa eleitoral de R$ 8 mil. A advogada Elizabeth Nadalim disse à reportagem que não iria comentar a decisão porque ainda não tinha sido intimada.

Atualmente, o ex-parlamentar usa tornozeleira eletrônica por ter descumprido medidas restritivas de distanciamento de Mário Takahashi (PV) e Rony Alves (PTB). A defesa tenta retirar o equipamento de monitoração impetrando recursos na Justiça.