Tarde de quarta-feira (22), calor e é debaixo de uma árvore na altura do número 1.400 que um grupo de cinco amigos se reúne para tomar uma cerveja. O local, na Avenida Higienópolis, no centro de Londrina, é o mesmo que é alvo de constantes reclamações de moradores e comerciantes devido ao barulho, à sujeira deixada na via e ao fato de frequentadores urinarem por toda a parte. Mas a baderna pode estar com os dias contados caso o projeto de lei proposto pelo prefeito Marcelo Belinati (PP) - anunciado em coletiva nesta quarta-feira (22) - que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nas ruas seja aprovado pela Câmara.

Assídua do espaço há 12 anos, Thaiana Sipriano, 28, considera que há abuso por parte de alguns, sim. "Povo bebe muito e daí grita demais." Moradora do centro, Thaiana fala que "esse é o point". "Aqui a gente acha todo mundo. Se estiver em casa e não tiver com quem conversar, a gente encontra conhecidos aqui." Animada, Thaina prefere um corotinho (bebida à base de vodka e pinga). "Sou do tempo em que a latinha era R$ 1. Já vi tiro, polícia e de tudo aqui", se abre.

Sobre a proibição do consumo de bebida, os amigos de Thaiana consideram desnecessário o projeto de lei. "Ué, e de dia? Qual o problema? Estamos aqui e não tem ninguém fiscalizando e não vai ter", diz Sardinha, 31 anos, nome fictício. "Eu moro na rua debaixo e não vou me identificar. Moro aqui faz 15 anos e realmente está errado quem faz xixi. A Polícia poderia ficar aqui também, não tem nenhum problema e deveriam instalar também banheiro químico. Fiscalização custa dinheiro, então, isso não vai vingar", pensa. "O posto da Rio Branco fechou e o pessoal veio para cá e, se a gente não puder ficar aqui, a aglomeração vai ser em outro lugar. Além do mais, todo mundo sabe que é proibida a venda de bebida alcoólica para menores. Os seguranças, que são policiais de folga, veem tudo e fazem vista grossa, então, por que reclamar de gente que está de boa?", questiona.

Na roda, o atendente de call center Thiago, 28, – que prefere não dar o nome completo – , concorda com o amigo e discorda da medida. "Eu moro aqui faz um ano. Vim de São Paulo e vejo a Higienópolis como a Rua Augusta. É um espaço democrático e não tem cabimento uma ideia dessa. Não dá para entrar num bar e pagar R$ 10, R$ 15. Precisaria criar meios de a sociedade se adaptar. Esse é o único pico da cidade. Um lugar seguro, só tem gente decente, estudada e não precisa dar fim, não", reclama. Os rapazes comentam que com o fechamento do posto – que encerra as atividades às 23 horas, eles compram cerveja nas distribuidoras de bebida do entorno. "No posto, a gente não pode tomar. Nem na calçada. Mas a gente entende", comenta o grupo.

"SOU A FAVOR DA LEI"

Proprietário de um posto de gasolina onde há grande concentração de pessoas, o comerciante Sandro Zanchet, 52, é a favor da lei e considera que os moradores têm motivos para se incomodar. "Em outros países, a lei é respeitada. Resta saber se haverá fiscalização. Infelizmente, as conveniências da cidade não podem mais funcionar juntamente com o posto que é 24 horas, pois é alvo de reclamação. Mas os vizinhos sabem que não somos os vilões. Fechamos às 23 horas e a bagunça continua. No último sábado, foi feito um vídeo. Já era 4h30 da madrugada. É como uma boate a céu aberto, sem contar que obstruem a via e isso gera constrangimento aos moradores."

Zanchet explica que se solidariza com os vizinhos - moradores e comerciantes - e enxerga pontos positivos na lei. "Vai melhorar o movimento de bares, restaurantes e quem preferir pode se reunir em casa com amigos ou em um espaço público adequado", opina.