Bate-boca marca primeiro dia do julgamento de Dilma
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quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Mariana Haubert, Débora Álvares e Daniela Lima<br>Folhapress
Brasília - O primeiro dia de julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff foi marcado por bate-boca entre petistas e senadores pró-impeachment e discussões sobre o papel de testemunhas arroladas por cada lado. Alguns episódios têm certa relevância técnica para os autos do processos, mas politicamente não sinalizam mudanças no cenário favorável ao impeachment. O julgamento, que começou às 9h30, seguiria madrugada adentro, segundo previa
o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que conduz os trabalhos no Senado.
Uma polêmica envolveu decisão de Lewandowski de rebaixar à categoria de "informante" o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Júlio Marcelo. Personagem que defendeu as chamadas "pedaladas fiscais", Marcelo foi arrolado como "testemunha" da acusação. A defesa conseguiu convencer Lewandowski de que ele não poderia ter essa posição por ter compartilhado em rede social uma convocação para um protesto contra a política fiscal petista.
O "rebaixamento" foi comemorado por aliados. O PT pretende lançar mão da chamada teoria do "fruto podre" na Justiça, caso recorra da provável decisão pelo impeachment de Dilma, segundo a qual um ato pode contaminar o processo.
Para tentar conter a ofensiva, Marcelo declarou que votou em Dilma nas eleições de 2010. Ponderou, entretanto, que não fez o mesmo em 2014.
Ronaldo Caiado (DEM-GO) deu o troco e questionou Lewandowski sobre a economista Ester Dweck, arrolada como testemunha de Dilma.
Dweck foi Secretária de Orçamento de Dilma e, agora, depois de ter perdido o cargo sob a gestão Temer, foi cedida pela universidade para o Senado, a pedido da petista Gleisi Hoffmann.
Logo pela manhã, um bate-boca entre senadores da base aliada e da oposição levou à suspensão, por alguns minutos, da sessão. Hoffmann questionou a "moral" do Senado para julgar Dilma.
"Eu exijo respeito ao decoro. Eu não sou assaltante de aposentado", bradou Caiado. O marido de Gleisi, o ex-ministro Paulo Bernardo, chegou a ser preso na Lava Jato em investigação que apura supostos desvios de crédito consignado de servidores.
Lindbergh Farias (PT-RJ) gritou com Caiado: "Canalha". O senador do DEM respondeu: "Abaixa esse dedo que você só tem coragem aqui, na frente de uma câmera. Vai fazer seu antidopping."
Hoje deverão prosseguir as oitivas das testemunhas de defesa.
LULA VAI
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve comparecer ao Senado na segunda-feira (29), dia em que a presidente afastada, Dilma Rousseff, vai prestar depoimento no processo de impeachment. O ex-presidente desembarca em Brasília no domingo (28) para acompanhar mais de perto os últimos momentos do processo de impedimento de Dilma, cujo julgamento final teve início nesta quinta (25).
Na segunda, quando a petista vai encarar perguntas dos senadores, a ideia dos aliados é contar com o "apoio moral" de Lula. Ele deve acompanhar a sessão de algum gabinete, onde poderia conversar com Dilma nos intervalos dos trabalhos.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, tem suspendido a sessão a cada quatro horas por pelo menos meia hora. A expectativa geral é que o depoimento de Dilma se estenda da manhã de segunda até a madrugada de terça.
Dilma terá trinta minutos, prorrogáveis pelo mesmo tempo, para se manifestar. Senadores, acusação e defesa terão cinco minutos, cada, para questionamentos. Em seguida, acusação e defesa se manifestarão por 1h30min, seguida de uma hora de réplica e tréplica.
Para o defensor de Dilma, ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, Lula deve ser bem recebido, especialmente por sua "importância política".