Deputados estaduais que compõem a base de apoio ao governador Jaime Lerner (PFL) na Assembléia Legislativa do Paraná estão se posicionando contra a privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel). A atitude, que expõe um racha entre os aliados, tem uma explicação singela: os deputados dizem que o combate à venda da estatal não é privilégio da oposição – que abraçou o assunto – e dizem que vão votar a favor da revogação da Lei 12.355, que autoriza o governo a vender a Copel. A bancada de oposição protocolou nesta segunda-feira projeto revogando a lei.
Tony Garcia, líder do PPB na Casa, disse que o assunto é ‘‘de responsabilidade da Assembléia inteira, e não só da oposição’’. ‘‘Temos a obrigação histórica de impedir essa venda’’, declarou. Ele é autor de outro projeto que também revoga a Lei 12.355. ‘‘Sou da base de apoio ao governo e estou contra a venda’’, emendou. De acordo com ele, cerca de 12 deputados aliados compartilham da mesma opinião.
Ontem, mais um deputado assinou o projeto da bancada oposicionista que revoga a Lei 12.355. Com a assinatura de Ricardo Maia (PSB), 25 dos 54 deputados subscreveram o projeto – entre eles, nomes do PFL, PTB e PSDB. Os dois deputados do PSB resolveram se posicionar contra a privatização. Moysés Leônidas disse que não só apóia o projeto como vai votar a favor. O petebista Algaci Túlio também disse que vai votar a favor da revogação. Marcos Isfer (PFL) também garantiu que vai votar com a oposição. ‘‘As usinas estão prontas e têm custo de manutenção quase zero. A população precisa entender como e por que vai acontecer essa venda.’’ Isfer lembrou que o caso do Banestado – vendido em outubro do ano passado ao Itaú – era diferente. ‘‘Tinha problemas passados, presentes e futuros. Já a Copel é lucrativa.’’ O pastor Edson Praczyk (PL) também disse que vai votar pela revogação da lei.
O líder do PMDB, Nereu Moura, acredita que o apoio deve aumentar e chegar a 28 deputados. ‘‘Queremos garantir que nem o Lerner nem ninguém venda a Copel’’, frisou. Ele acredita que a matéria deve entrar em votação no início de abril. ‘‘Até julho tem que estar aprovado’’, calculou. A intenção do governo é vender a companhia ainda este ano.
O Palácio Iguaçu não demonstra grande preocupação com a postura adotada pelos governistas. O líder do governo na Casa, Durval Amaral (PFL), defende a tese de que apoio não significa necessariamente compromisso de voto. ‘‘Estamos tranquilos. O projeto (impedindo a venda) vai tramitar, mas não acredito que passe’’, disse. Nereu Moura rebateu, alegando que todos os deputados que assinaram são autores. ‘‘Por isso, não vão abandonar o projeto.’’
Segundo Amaral, o secretário da Fazenda e presidente da Copel, Ingo Hubert, vai justificar aos deputados e à população a necessidade da venda. ‘‘Não serão os argumentos da oposição o canto da sereia para desautorizar a venda.’’ Ele disse ainda que, como líder, vai fazer o que puder para retardar a votação da matéria.
O secretário do Governo, José Cid Campêlo Filho, disse que a autorização para a venda já passou pelo crivo dos deputados e não deve ser modificada. ‘‘Os deputados são basicamente os mesmos que em 1998 autorizaram a venda’’, observou. O Palácio Iguaçu defende que a empresa vai perder competitividade se não for privatizada.
Moura havia pedido, no início da tarde de ontem, urgência na tramitação do projeto mas, como as comissões permanentes ainda não foram instaladas, acabou retirando o pedido, em obediência ao Regimento.