O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) voltou a negar que teve envolvimento no contrato de aquisição da Covaxin. Em nota enviada à imprensa na noite deste domingo (27), o líder do Governo na Câmara também comentou a respeito da nomeação da servidora Regina Célia Silva Oliveira, que deverá ser convocada para depor à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19. Além de também ser convocado para depor nos próximos dias, uma vez que disse estar à disposição para prestar esclarecimentos diversas vezes, Barros também poderá entrar na mira de uma representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por conta dos apontamentos feitos pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) na sexta-feira.

Imagem ilustrativa da imagem Barros diz que conversa com presidente não foi sobre compra da Covaxin
| Foto: Alan Santos/PR

Esta foi a primeira manifestação mais aprofundada feita pelo maringaense desde que foi apontado como coordenador da compra do imunizante, operação considerada superfaturada e irregular, e que coloca o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na mira da CPI mesmo sem ter sido concretizada. Conforme disseram o deputado Luis Miranda e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, Bolsonaro foi alertado sobre as supostas irregularidades na compra do imunizante, que é produzido pela indiana Bharat Biotech. No entanto, o presidente deixou de tomar as providências, o que pode lhe render denúncia por prevaricação.

Neste domingo, Barros disse que o diálogo mencionado por Miranda seria sobre a empresa Global e a compra de medicamentos que não foram entregues ao Ministério da Saúde, pasta chefiada por ele durante o governo Michel Temer (MDB). A empresa é sócia da Precisa Medicamentos, responsável por intermediar a compra da Covaxin. "Trata-se de processo judicial em que provo a minha conduta em favor do SUS, quando fui ministro da Saúde", justificou. Em seguida, enviou cópia de sua defesa neste processo apresentada à Justiça por um escritório de advocacia de Curitiba em 2019.

Na mesma nota, Barros afirmou que a nomeação de Regina Célia Silva Oliveira não foi fruto de sua indicação. Embora tenha assinado sua nomeação ao cargo de Assistente Técnica na Secretaria de Vigilância em Saúde, em 2018, Barros ressaltou que Oliveira é servidora de carreira que ocupou mais de cinco cargos de livre nomeação no Ministério da Saúde ao longo de quatro governos. "Deve ser observado que ela é uma servidora concursada desde 1995, não podendo haver escolha ou não de sua participação na rotina do Ministério da Saúde", disse.

A FOLHA questionou a assessoria do deputado sobre sua ligação com os proprietários da Belcher Farmacêutica do Brasil, empresa sediada em Maringá e que aparece como intermediadora da compra de outro imunizante contra a Covid-19 em documento do Ministério da Saúde. De acordo com o documento, que foi assinado no início deste mês, a Belcher seria responsável por intermediar a compra de 60 milhões de doses da Convidencia, vacina produzida pelo laboratório chinês CanSino. Cada dose custaria US$ 17, o mais alto entre os imunizantes contra a Covid-19 já negociados.

"Sobre esse fato, o deputado apenas conhece os proprietários", informou a assessoria.

No entanto, outros fatos indicam que a conexão entre ele e os proprietários da empresa, Francisco Feio Ribeiro Filho, o Chiquinho Ribeiro, é muito mais próxima. Ribeiro Filho ocupou o cargo de presidente da Urbamar, empresa de urbanização de Maringá, durante a gestão de Ricardo Barros à frente da prefeitura do município entre 1989 e 1992.

A reportagem também confirmou que o irmão de Ricardo Barros, o também ex-prefeito de Maringá, Silvio Magalhes Barros II, esteve presente na festa de aniversário de Chiquinho Ribeiro, em 2016.

Além de estar localizada no reduto eleitoral da família de Ricardo Barros, a Belcher é alvo da operação Falso Negativo por suspeita de superfaturar testes adquiridos pelo Ministério da Saúde para diagnosticar a Covid-19. Esta investigação resultou na descontinuidade da negociação pelo laboratório chinês no dia 10 de junho.

Mesmo diante destes fatos, a avaliação entre integrantes do Palácio do Planalto é que Barros permanece na liderança do Governo e que, por hora, os fatos apresentados por Miranda não são suficientes para resultar no afastamento do cargo. No sábado, o deputado Ivan Valente (Psol) prometeu representar contra o opositor na Comissão de Ética da Câmara por supostamente ter infringido o artigo 4º do Código de Ética Parlamentar. O trecho descreve como conduta punível com a perda do mandato "perceber, a qualquer título, em proveito próprio ou de outrem, no exercício da atividade parlamentar, vantagens indevidas."

(Com Folhapress)

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