Em depoimento de quatro horas e meia nesta sexta-feira (12), o auditor fiscal da Receita Estadual de Londrina, José Luiz Favoreto Pereira, negou todos os fatos criminosos imputados a ele na ação penal da quarta fase da Operação Publicano. Durante o interrogatório conduzido pelo juiz da 3ª Vara Criminal, Juliano Nanuncio, o réu criticou o Ministério Público (MP) do Paraná e alegou que as acusações contra ele estariam baseadas "apenas" na delação do réu colaborador Luiz Antonio de Souza.

Favoreto também é réu na Publicano 3, acusado como articulador da ocultação da propina amealhada no suposto esquema de corrupção no órgão estadual. Ao ser questionado pontualmente pelo magistrado, o auditor ora rechaçava as acusações ora afirmava desconhecer os fatos, afirmando que não prestava serviços na delegacia da Receita em Londrina em alguns fatos. Em vários momentos se disse injustiçado. "A injustiça dói, excelência. No momento em que ele (Souza) se transforma em mártir, eu quero limpar o meu nome e mostrar que não sou o que dizem", disse ao juiz. Favoreto justificou que "ao contrário do delator", teria patrimônio de R$ 1,1 milhão, "compatível com os ganhos".

Orientado pelo advogado Walter Bittar, Favoreto se negou a responder as perguntas do MP na audiência desta sexta-feira (12). "Desde que o Luiz Antonio disse que houve fraude com relação a áudio e vídeo ou partes retiradas, pessoas inseridas e pessoas retiradas, a situação do Ministério Público deixa de ser daquele que busca a verdade e passa a ser de quem está agindo em seu próprio interesse", afirmou o advogado, se referindo ao interrogatório do delator, no mês de fevereiro, no âmbito da Publicano 4, quando Souza questionou a ausência de gravação de todos os seus depoimentos e colocou em dúvida a veracidade daqueles que apenas foram transcritos. Na ocasião, o acordo de delação com o MP estava rescindido, mas seria retomado cerca de um mês depois.

CLIMA TENSO
O promotor de Justiça e coordenador do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Jorge Fernando Barreto da Costa, considerou normais as declarações do réu. Durante entrevista, ele afirmou que todas as fases da Publicano estão embasadas em "robusta" coleta de provas. "Delação premiada é mero indício de prova, é para iniciar a coleta de provas, pois as denúncias da Operação Publicano estão amparadas em conjunto de provas robusto no qual o Ministério Público confia. O que foi apresentado até agora nos interrogatórios em nada afasta essa certeza do Ministério Público."

Enquanto falava com os jornalistas, o promotor foi interpelado pelo advogado Benedito Maciel de Góes, também réu na Publicano 4. "O senhor poderia nominar as provas, vocês só têm o delator, não fale mentiras", falou Góes, interrompendo a entrevista. "O debate é em outro dia, o debate é em outro dia", retrucou Costa. "O senhor está me chamando de mentiroso!"

Procurado pela reportagem, Góes reafirmou as críticas, que são feitas pelos demais réus. "O Ministério Público diz que tem provas robustas, mas não apresentou nada até agora. Só tem as palavras do delator e que chegou a acusar (o MP) de fraude processual." Ele disse que trabalhou na Receita Estadual de Londrina por 23 anos. Haverá novos interrogatórios na segunda-feira (15).