Assembléia quer investigar acusações
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sábado, 24 de fevereiro de 2001
Carmem Murara De Curitiba
Deputados da oposição e até da bancada de apoio ao governo defenderam ontem que a Assembléia Legislativa do Paraná instale uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ou então coloque em funcionamento a Comissão de Ética para investigar as denúncias do ex-secretário da Fazenda de Maringá, Luis Antônio Paolicchi, que está preso. Eles entendem que é necessário saber até onde há o envolvimento do governo do Estado e de deputados em desvio de dinheiro público para financiar campanhas eleitorais. O procedimento a ser adotado será discutido pelas bancadas após o Carnaval.
No depoimento que prestou à Justiça, Paolicchi saiu do silêncio. Como se fosse uma metralhadora giratória, ele acusou o governador Jaime Lerner (PFL), o senador Alvaro Dias (PSDB), o procurador-geral do Estado, Joel Coimbra, os deputados José Borba (PMDB), Ricardo Barros (PFL), Ricardo Maia (PPS), Serafina Carrilho (PL) e o ex-deputado federal Waldomiro Meger (PFL) de terem sido beneficiados em suas campanhas eleitorais com dinheiro desviado da Prefeitura de Maringá, liberado pelo então prefeito Jairo Gianoto (sem partido). Foram citados ainda os vereadores Walter Guerles (PSDB), Mário Hossokawa (PSDB) e o ex-vereador Ulisses Maia (PPS).
As acusações foram consideradas gravíssimas pelos deputados entrevistados ontem pela Folha. O deputado Nereu Moura (PMDB) foi enfático. Temos de instalar a CPI da Corrupção para investigar todos os desmandos, afirmou. Ele entende que a comissão poderia abranger desde o caso da Banestado Leasing até o das prefeituras de Londrina e Maringá. O deputado Algaci Túlio (PTB), aliado ao governo, foi mais cauteloso. Para ele, primeiro é preciso comprovar a veracidade das acusações. Já vi esse filme antes. Temos de esperar pela conclusão do processo, disse.
Há cinco CPIs que se encerram na primeira quinzena de março com a aprovação de seus relatórios. Depois, haveria espaço para abrir outra investigação. O que faltará será apoio da bancada governista para apurar fatos que podem atingir o Palácio Iguaçu, admite Nereu. São necessárias 18 assinaturas para iniciar uma CPI. O fato é uma bomba que deixa qualquer um estarrecido. Temos que investigar, afirmou.
O também oposicionista deputado Orlando Pessuti (PMDB) vê necessidade de esclarecer melhor o assunto. Ele propõe que seja colocada em funcionamento a Comissão de Ética da Assembléia. Ela investigaria apenas o envolvimento dos deputados estaduais. Não podemos crucificar ninguém, até porque as acusações partem de alguém que está envolvido até o pescoço. Mas não podemos nos omitir nesse momento, afirmou Pessuti.
O deputado diz que se forem encontradas provas materiais é possível pedir até mesmo o impeachment do governador Jaime Lerner, mas enfatiza que isso é apenas uma cogitação que carece de melhor discussão. O Palácio Iguaçu nega qualquer envolvimento de Lerner no esquema de Maringá, e diz que as contas da eleição foram apresentadas e aprovadas pelo Tribunal Reginal Eleitoral. O governador adotou o silêncio no final de semana. O secretário de Governo, José Cid Campêlo Filho, informou que vai analisar as denúncias na próxima semana para então articular providências.