Daniel Galvão
Agência Estado
De São Paulo
PRISÃO
Adilson – Em maio, a caminho de Goiás, o caminhoneiro pára em Aramina (SP). Em um bar, é abordado pela polícia, que lhe pede documentos e o prende sob a alegação de que é suspeito de participar de roubo de cargas.
Sanches – Adilson foi preso em flagrante, com carga roubada. Perseguido pela polícia, abandona o caminhão e foge. Capturado, confessa o crime.
- PRIMEIRA ABORDAGEM
Adilson – Preso em Igarapava, Adilson é procurado em novembro pelo delegado Wilson Pio. ‘‘Tenho uma coisa boa para você hoje’’, teria afirmado Pio. Ele é levado até o Fórum, sem saber por quê. Na sala de Sanches, o acordo é proposto. ‘‘Eu não quero você, você não me interessa; é com o Dr. Arthur, ele é seu advogado. A gente tem muito indício de que ele tem culpa’’, teria afirmado Sanches.
Sanches – O caminhoneiro é levado ao Fórum a seu próprio pedido porque pretendia denunciar a quadrilha, temendo ser morto na prisão. Ele conta detalhes sobre a relação com Mathias e o crime organizado.
- A HISTÓRIA
Adilson – Sanches e Pio inventam uma história para que Adilson conte ao juiz de Igarapava, Humberto Aparecido da Rocha. Ele admite participar da quadrilha. A intenção era obter a prisão do advogado. ‘‘Com outras coisas que vão surgir de todo o Brasil, a gente vai ferrar ele’’, teriam dito, em referência ao crime organizado no Maranhão e o empresário William Sozza (acusado de envolvimento em roubo de cargas).
Sanches – Adilson denuncia Mathias espontaneamente. Ele explica como funciona a quadrilha e liga o advogado a Sozza.
- PROTEÇÃO
Adilson – Após o acordo, o promotor de Igarapava diz não ter condições de oferecer proteção a Adilson.
Sanches – O promotor explica a Adilson que ele não tem direito ao benefício do Programa de Proteção à Testemunha por ser acusado, e não uma simples testemunha.
- CHÁCARA
Adilson – O delegado leva Adilson para uma chácara perto de Franca (SP). No meio do caminho, o promotor de Igarapava junta-se a eles. Lá, Adilson repassa toda a história que contaria ao juiz e tem novamente a promessa de que seria solto.
Sanches – Adilson é quem indica a chácara, que fica em Nuporanga (SP), como ponto de desova de carga roubada. A polícia encontra no local armas, materiais de uso privativo do Exército e fotografias nas quais o dono da propriedade aparece ao lado de policiais rodoviários federais.
- JUIZ
Adilson – O caminhoneiro conta a história como combinado ao juiz, que o manda ‘‘sumir’’, justificando que, a partir daquele momento, ele corria riscos.
Sanches – O juiz manda Adilson se esconder porque ele poderia ser ameaçado.
- CPI
Adilson – Os promotores insistem em que repita a história à CPI do Narcotráfico. Adilson é convidado pelo deputado Russomanno a ir para Brasília, onde teria proteção.
Sanches – O contato com a CPI foi feito para proteger Adilson. Depois de tudo acertado, ele recua.
- RECUO
Adilson – Convencido por um primo, desiste de manter a farsa. O caminhoneiro procura a mulher de Mathias, a escrivã Naara Cristina Villares, e registra um termo de retratação no 17º Tabelionato de Notas de São Paulo. A confissão não é feita perante a Justiça porque ele teme ser preso.
Sanches – Adilson foi ameaçado pela quadrilha para recuar. Um inquérito é instaurado a pedido do promotor João Valente Filho, de Campinas, para apurar a coação. Alguns dias depois, sua liberdade provisória é revogada sob a alegação de que o caminhoneiro não foi encontrado em seu endereço.