Forças poderosas no cenário político paranaenses, o MDB e o PSDB ainda calculam as perdas computadas nas eleições no mês passado. Dominantes nas últimas décadas na chefia do Palácio Iguaçu, as legendas amargaram as piores derrotas na disputa de poder no Estado. O PSDB do ex-governador Beto Richa somou a maior derrota. Se em 2016 conquistaram 68 governos municipais, este ano a conta fechou em 17. Já o MDB, que governou pela última vez com Roberto Requião, elegeu 28 prefeitos, 50 a menos que no pleito anterior. Em política não há tempo para lamentações e a palavra de ordem em ambos os grupos é reorganizar a casa. “Estamos reestruturando o partido no Paraná, especialmente em relação aos diretórios municipais, para que tenham uma atuação constante junto às comunidades. Queremos que o PSDB seja identificado como um partido de diálogo, oposto a qualquer extremismo”, afirma o deputado estadual Paulo Litro, presidente estadual do PSDB.

João Arruda
João Arruda | Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

A avaliação do presidente do MDB no Paraná e ex-candidato à Prefeitura de Curitiba, João Arruda, é de que não há como ver o processo com entusiasmo. “O resultado foi muito ruim para o partido no Paraná. É preciso fazer uma avaliação, entender o resultado das urnas e se reciclar, se oxigenar”, detalha. Para ele, é preciso repensar o partido como um todo no âmbito local, mas evitar que os projetos dos integrantes sejam personalistas. “Temos que atrair pessoas que queiram vir para o partido, consolidar um projeto e apresentar uma proposta para o Paraná e os municípios. Que tenham proposta e esperança e não queiram só ser lideranças que vivem de um processo já viciado e fisiológico”, critica. No cálculo do dirigente partidário, apenas 20% das forças nos partidos políticos estão ligadas aos projetos internos e o restante busca espaços nos grupos que atuam em mandatos em curso.

As razões para o fenômeno ocorrido com ambos os partidos se confirmou com crescimento vertiginoso do PSD do governador Ratinho Junior, que levou 129 prefeituras este ano. Historicamente, a relação entre o partido que ocupa a cadeira mais importante do estado e o número de prefeituras tem se mostrado um fato. A ponto de o PT, mesmo em seu auge na presidência da República, não ter sido maioria no Paraná. “Estar na chefia do Executivo costuma fortalecer o partido, uma vez que atrai lideranças para a legenda. Porém, a força e abrangência de um partido não deve existir apenas quando está com o mandato no executivo, mas na aplicação e defesa de suas bandeiras, bem como na manutenção do diálogo com a população”, pondera Litro, que acredita que os partidos devem ser um espaço de debate de temáticas relevantes para a sociedade.

PROJETOS

O crescimento do PSD é caracterizado por João Arruda por um termo que virou um xingamento no meio, em especial depois das eleições de 2018: “velha política”. “O governador atuou com firmeza e influenciou candidaturas. Ele tirou muitos nomes do MDB que eram candidatos a prefeitos e filiou no partido dele. Atuaram com um empenho que não têm para apresentar resultados para a população”, critica. Outra crítica da liderança do partido é quanto à forma em que os recursos do fundo eleitoral foram divididos nacionalmente. Arruda alega que MDB no Paraná foi o partido que teve menor estrutura e que a maior fatia ficou para os deputados federais e seus aliados. “Não houve interesse de eleger prefeitos em cidades estratégicas para que a gente possa, inclusive, montar chapa em 2022. As dificuldades serão enormes. Não houve uma estruturação partidária e um conjunto de ações no estado para que pudéssemos ter nomes fortes para deputados, governador e senador”, avalia.

Apesar de aquém do desejado, o prognóstico no PSDB é positivo para o próximo pleito. Embora tenha registrado uma diminuição no número de prefeituras, o partido leva o título de detentor do maior número de cidades em todo o País nessas eleições – apesar de ter perdido importantes cidades. A crença das lideranças é que o partido mostra que tem força e está em sintonia com as demandas e interesses da população. “Para as próximas eleições, o PSDB contará com uma candidatura forte para a presidência e caberá aos diretórios municipais e estaduais atuarem para montar chapas sólidas, ajudando a disseminar as propostas do partido e ampliar o diálogo com a população”, defende Paulo Litro. Nem mesmo as denúncias contra Richa enquanto governador do Paraná parecem preocupar. “É importante destacar que questões pessoais não podem ser confundidas com CNPJ partidário e que, em 2019, o PSDB passou por uma profunda reformulação, incluindo realização de Congresso Nacional e instituição de compliance dentro do partido”, defende.

COLIGAÇÕES

A mudança das regras nas eleições, com o fim da autorização das coligações para as candidaturas proporcionais, nas câmaras municipais, não representou o maior desafio para os partidos. Enfrentar a máquina pública em meio à pandemia da Covid-19, sim, foi a tarefa hercúlea. “A força da máquina pública teve a maior influência no resultado eleitoral. É só fazer uma avaliação: muitos candidatos que estavam lá embaixo nas pesquisas e foram apoiados pelo governo saíram lá de baixo e acabaram vencendo a eleição”, analisa Arruda. No PSDB, o formato novo para o Legislativo foi aprovado. “Não diria que trouxe um prejuízo, mas sim um novo desafio para todos os partidos, já que foi a primeira eleição com esse formato e exigiu dos diretórios municipais uma atuação ainda mais ampla. Buscamos nos adaptar a essa nova realidade”, concluiu.