BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - De um lado, um grupo de lojistas que apoia Jair Bolsonaro (sem partido). Do outro, um grupo de cidadãos que apoia a ema que bicou o presidente no Palácio do Alvorada e virou personagem nacional.

Os dois lados se enfrentam nos outdoors da cidade mineira de Sete Lagoas, a 73 km de Belo Horizonte e 239 mil habitantes. A batalha começou com os apoiadores do presidente, no início do mês, e ganhou resposta na semana passada daqueles que não concordam com ele.

No cartaz bolsonarista, assinado por "Lojista Unidos 7 Lagoas", além do lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, a foto do presidente vem acompanhada da frase: 7 Lagoas apóia (sic) Bolsonaro. Na resposta da oposição, a foto do presidente foi marcada com um xis vermelho, dizendo: 7 Lagoas apoia a ema que bicou Bolsonaro.

O outdoor em apoio à ave foi colocado na rua Professor Abeylard, zona nobre da cidade. No canto direito, um selo, com a silhueta da ema, traz uma frase tirada da Constituição Federal: todo poder ema na do povo.

A ideia foi executada por cinco pessoas, mas o grupo reúne dezenas, diz uma das organizadoras da iniciativa, que pediu para não ser identificada. O dinheiro para bancar o primeiro outdoor foi juntado rapidamente com colaborações espontâneas, e já há planos de instalar novos cartazes.

“Eu me senti muito ofendida [com os outdoors pró-Bolsonaro], eu sou comerciante, minha família também, e não poderiam falar em nome de todo mundo”, explica ela.

Em uma mensagem enviada à reportagem, o grupo diz que quer servir de contraponto às ideias autoritárias da direita sete-lagoana e como oposição ao presidente. Eles ressaltam que não tem intenção político-partidária.

“A ema é um símbolo irônico da resistência. Ela compreendeu melhor o perigo que ele representa para o Brasil do que os apoiadores dele”, dizem.

Na cidade, Bolsonaro foi o mais votado no segundo turno, com 69,9% dos votos. No primeiro, teve 58,4%, faltando 15 votos para fechar a diferença de 50 mil a mais que Fernando Haddad (PT).

Três lojistas que foram indicados como integrantes do movimento de apoio ao presidente, declinaram dar entrevistas e negaram saber qualquer coisa sobre os outdoors.

O dono da empresa que alugou o espaço para os bolsonaristas conta que outros 10 outdoors devem ser instalados em Sete Lagoas no início de agosto. Mesma quantia da primeira leva, feita no início do mês.

Segundo ele, cerca de metade dos cartazes sofreu algum tipo de retaliação. “Fizeram vandalismo, coisa de petista mesmo. Jogaram tinta”, diz Fernando França. “Teve pichação, fizeram montagem em cima da nossa foto com coisa vulgar e jogaram na internet”.

Ele conta ainda que os lojistas devem receber apoio de pecuaristas e outros setores e que planeja colar outro cartaz parecido em uma placa que tem em Nova Serrana (a 157 km de Sete Lagoas). Apesar de não fazer parte do grupo que produziu os outdoors, França é eleitor de Bolsonaro.

“Petista nem pensar, né? Cambada de ladrão. Qualquer coisa é melhor que petista”, diz.

Uma montagem em cima dos outdoors a favor do presidente, viralizou na internet. Ela é uma das 17 versões criadas pelo comerciante Lucas Raposo e compartilhadas em grupos de WhatsApp com conhecidos.

“Tanto a minha iniciativa, que foi particular, quanto a da ema, acho que são contrapontos necessários, para não ficar tão confortável de fazer um cartaz falando pela cidade inteira. Isso não é a realidade”, diz ele, que não votou em Bolsonaro e se considera de esquerda.

O cartaz do grupo contrário a Bolsonaro ainda lembra algumas frases ditas pelo presidente sobre a pandemia do novo coronavírus, como o “e daí?” —quando o país chegou a 474 mortes— e “é só uma gripezinha”.

Na terça-feira (28), o país registrou pelo menos 897 novas mortes relacionadas à Covid-19, chegando ao total de 88.634 mortos e 2.484.649 casos confirmados.

Em Sete Lagoas, até quarta, há 786 casos confirmados e 13 mortes, segundo o boletim municipal. Uma decisão judicial na semana passada determinou que a prefeitura abra 35 leitos de UTI.

Segundo a prefeitura, o cálculo usado na decisão ficou abaixo do número real de leitos do município, que precisaria, na verdade, de outras 23 vagas para chegar às 67 necessárias, segundo o Ministério Público de Minas Gerais —dez leitos foram inaugurados no dia 22.

À reportagem, sobre os outdoors, a prefeitura disse ainda que não se manifesta sobre publicidade paga pela iniciativa privada e que em um país democrático, trata-se de livre manifestação dos respectivos interessados.