Brasília - A Polícia Federal cumpre nesta segunda-feira (16) três mandados de prisão e cinco mandados de busca e apreensão contra suspeitos de participação, organização e financiamento dos atos golpistas realizados após as eleições e no último dia 8 de janeiro, quando os prédios dos três Poderes foram atacados em Brasília.

A ação foi batizada de Ulysses e teve origem na investigação sobre lideranças envolvidas nos atos que bloquearam rodovias em Campos dos Goytacazes (RJ).

Os suspeitos, diz a PF, também atuaram na organização das manifestações vistas em frente aos quartéis do Exército na cidade fluminense.

Sobre os atos em Brasília, a PF afirma que a apuração envolve "lideranças na organização e financiamento dos atos que desencadearam a depredação dos prédios públicos".

Dois alvos de mandado de prisão já foram presos. São eles, o subtenente do Corpo de Bombeiros Roberto Henrique de Souza e Carlos Victor Carvalho, que nas redes sociais se apresenta como integrante da Associação Direita Campos.

O Corpo de Bombeiros disse que Roberto foi preso e será encaminhado ao Grupamento Especial Prisional da corporação.

A PF ainda realiza diligência em busca de um terceiro alvo, considerado foragido. Nas buscas foram apreendidos celulares, computadores e documentos.

Para os investigadores, os mandados cumpridos nesta manhã servirão para "identificar eventuais outros partícipes/coautores na empreitada criminosa."

Assim como nos casos relatados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, são investigados os crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado democrático de Direito e incitação das Forças Armadas contra os Poderes institucionais.

Os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro e os anteriores, como a tentativa de invasão ao prédio da PF e a tentativa de atentado a bomba em Brasília, são investigados em diversas frentes.

No caso da tentativa de invasão ao prédio da PF, quatro pessoas já foram presas e outras 7 estão foragidas. A investigação tramita no STF e é conduzida pela PF de Brasília e pela Polícia Civil do Distrito Federal.

O atentado a bomba também está na mira dos mesmos investigadores uma vez que foram encontrados alvos que atuaram nos dois episódios.

Um dos suspeitos das duas investidas golpistas é bolsonarista Alan Diego Rodrigues, suspeito de ter instalado uma bomba em um caminhão de combustíveis estacionado próximo ao Aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro. Ele já tinha sido apontado como um dos que teriam participado da tentativa de invasão ao prédio da PF e realizado incêndios em veículos no dia 12 de dezembro.

A PF também conduz a investigação sobre presos em flagrante no acampamento bolsonaristas em frente ao quartel-general de Brasília e a que mira os envolvidos nas invasões e depredações de prédios públicos. Todas as imagens coletadas nos locais passam por uma perícia para identificação dos envolvidos.

39 DENUNCIADOS

A Procuradoria-Geral da República apresentou nesta segunda (16) denúncia contra 39 pessoas envolvidas nos atos golpistas e de depredação no prédio do Senado Federal. Na acusação, o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos afirma que os envolvidos "contribuindo uns com os outros para a obra criminosa coletiva comum, tentaram, com emprego de violência e grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos Poderes Constitucionais".

A PGR enquadrou os golpistas nos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano e deterioração do patrimônio público tombado.

Embora o ministro Alexandre de Moraes tenha apontado a possibilidade de crime de terrorismo, a PGR não se valeu desse tipo penal para denunciar os envolvidos. Em nota, a Procuradoria afirma que para esse crime seria necessário que os atos fossem praticados "por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião". Segundo a PGR, até o momento não foi possível comprovar essa prática.