Alvo da PF, Zambelli enfrenta ao menos 4 ações com pedido de cassação
Deputada bolsonarista é investigada em ação envolvendo hacker da "Vaza Jato" que resultou em invasão dos sistemas do CNJ
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 02 de agosto de 2023
Deputada bolsonarista é investigada em ação envolvendo hacker da "Vaza Jato" que resultou em invasão dos sistemas do CNJ
Renata Galf/Folhapress
São Paulo - Alvo de busca e apreensão da Polícia Federal nesta quarta-feira (2), por suspeita de atuar em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) enfrenta ao menos quatro ações na Justiça Eleitoral que podem resultar na cassação de seu mandato.
Ela é alvo de quatro Aijes (ação de investigação judicial eleitoral), que, além da cassação, também têm como possível consequência a sua inelegibilidade por oito anos, a contar das eleições de 2022.
Duas das ações tramitam no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e têm outros alvos, para além de Zambelli. Elas foram apresentadas pela coligação do hoje presidente Lula (PT).
Outras duas miram apenas a deputada e foram protocoladas no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo. Ambas chegaram a ser remetidas para o TSE, para tramitarem em conjunto com as ações protocoladas na corte, sob o entendimento de que havia conexão entre os temas.
Em julho, no entanto, por decisão do ministro do TSE e corregedor-geral eleitoral, Benedito Gonçalves, elas foram enviadas de volta ao TRE.
Duas das ações que pedem a inelegibilidade de Zambelli afirmam que ela faria parte de um "ecossistema de desinformação bolsonarista", que atuaria para "usurpar temas do debate público".
Os autores da ação argumentam que haveria um conjunto de perfis em redes sociais atuando para a aguda propagação de desinformação contra a candidatura do petista, contra a integridade do sistema eleitoral e em favor da candidatura de Jair Bolsonaro (PL).
Outras duas ações têm como foco ataques ao sistema eleitoral e à regularidade das eleições, em que é citado, por exemplo, vídeo do fim de novembro em que ela se dirigia a generais, pedindo que não aceitassem o resultado da eleição.
Aliada de Bolsonaro, Zambelli fez postagens de incentivo a atos de cunho golpista após as eleições, como aos bloqueios em rodovias que se espalharam pelo país após a vitória de Lula nas urnas.
Nos autos, a defesa de Zambelli pleiteou, em linhas gerais, que os pedidos das ações fossem considerados inválidos, questionando a argumentação e as provas apresentadas. Defendem que a conduta de Zambelli não caracterizou abuso de poder político, econômico ou uso indevido de meios de comunicação social.
BUSCAS
Já as buscas contra Zambelli desta quarta têm relação com trama envolvendo Walter Delgatti, conhecido como o hacker da "Vaza Jato" e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão.
Terceira deputada federal mais bem votada nas últimas eleições, com 946 mil votos, atrás de Nikolas e Guilherme Boulos (PSOL-SP), Zambelli teve suas redes sociais suspensas pelo TSE na semana seguinte ao segundo turno.
Em fevereiro, o presidente da corte eleitoral, Alexandre de Moraes, desbloqueou os perfis, mas manteve multa de R$ 20 mil em caso de publicações "instigadoras ou incentivadoras de golpe militar, atentatórias à Justiça Eleitoral e ao Estado democrático".
Em junho, Moraes determinou encaminhamento dos autos do processo de bloqueio das redes de Zambelli do TSE ao STF, argumentando que havia pertinência temática com os inquéritos que correm na corte.
Deputada diz que tentam envolver Bolsonaro em investigação contra ela
JOÃO GABRIEL
Brasília - A deputada Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que existe uma tentativa de envolver Jair Bolsonaro (PL) no contexto das investigações contra ela conduzidas pela Polícia Federal. A parlamentar foi alvo nesta quarta-feira (2) de operação da PF, que cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ela. Os agentes prenderam Walter Delgatti, conhecido como o hacker da "Vaza Jato". Zambelli é uma das principais aliadas do ex-presidente.
"Estão tentando envolver o presidente [Bolsonaro] através de mim, pelo fato de eu ser próxima [dele]", afirmou ela sobre a operação.
A deputada acrescentou que não há ligação entre o caso e o ex-presidente.
Zambelli e Delgatti são suspeitos de atuarem em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão.
As buscas contra Zambelli foram cumpridas em seu gabinete na Câmara dos Deputados e em endereços residenciais.
"No primeiro momento que eu soube que eu estaria envolvida em atos ilícitos, meu advogado, Daniel Bialski, protocolou na Polícia Federal uma petição dizendo que eu estaria inteiramente à disposição e do judiciário para prestar qualquer tipo de esclarecimento", afirmou, se dizendo surpresa com a operação.
A deputada acrescentou que a PF foi à sua casa por volta de 6h da manhã e apreendeu seu passaporte, dois celulares e um HD.
Segundo ela, foram cerca de três encontros com Delgatti, no qual foram abordados temas de tecnologia. Ele também chegou a ser contratado por ela para prestar serviços ao seu site, disse a parlamentar.
Em um destes encontros, relatou a deputada, o hacker teria oferecido serviços de auditoria das urnas para o PL, teve uma reunião com o presidente da sigla, Valdemar da Costa Neto, mas não foi feito nenhum acordo.
Zambelli confirmou a versão de Delgatti de que, no posterior encontro com Bolsonaro, o ex-presidente teria perguntado se o hacker conseguiria fraudar as urnas.
"A pergunta que o [ex] presidente fez foi se as urnas eram confiáveis, e ele respondeu que nenhum sistema tecnológico era confiável", disse, acrescentando que não aconteceram novos encontros entre os dois.
Zambelli afirmou ainda que não houve nenhum serviço relacionado à fraude das urnas, nem a elaboração de um falso mandato contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
"Eu não fraudaria eleições para o Lula ganhar e nem seria tão barato assim", ironizou sobre as eleições.
"Não participaria de uma piada de mau gosto com o Alexandre de Moraes. Eu sei o que pode acontecer com um deputado que brinca com ministros do Supremo Tribunal Federal, haja visto nosso amigo Daniel Silveira", disse.
Finalmente, a deputada afirmou que Delgatti lhe pareceu "uma boa pessoa" e que prestará depoimento na PF na próxima segunda-feira (7). "Minha inocência vai ser provada".

