Centenas de alunos, professores, servidores e integrantes de sindicatos e entidades realizaram um ato na manhã desta terça-feira (6) em frente ao HU (Hospital Universitário) de Londrina, na zona leste. A manifestação mostrou a contrariedade do grupo ao projeto de lei 522/2022, de autoria do Governo do Estado. O documento foi enviado em regime de urgência à AL (Assembleia Legislativa do Paraná) na semana passada e visa mudar a gestão dos hospitais universitários do Paraná.

LEIA TAMBÉM:

+ Reunião pública discute terceirização do HU na Câmara Municipal

+ HU pode parar em protesto a PL que terceiriza gestão do hospital

Na prática, caso seja aprovada, a proposta abre a possibilidade de terceirização ou até privatização da parte assistencial das instituições, mantendo o Estado responsável apenas com o âmbito acadêmico. “Não temos clareza de como seria a divisão da gestão administrativa e educacional. O que estamos entendendo da proposta é que a gestão passa a ser fundacional, porém, não temos conhecimento de quais seriam as fundações que poderiam participar, se as existentes dentro da estrutura da universidade ou outras”, destacou a diretora Administrativa do HU de Londrina, Daiane Vieira Cardoso.

Durante o protesto, os participantes levantaram cartazes e faixas em favor do HU e do SUS (Sistema Único de Saúde) e gritaram palavras de ordem. Os manifestantes também ocuparam durante vários momentos os dois sentidos da avenida Robert Koch, liberando o trânsito logo na sequência. Diversos motoristas mostraram adesão à demanda por meio de buzinas. O PL 522/2022 está na pauta desta terça da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).

Se passar pelo crivo da comissão, estará pronto para ser votado ainda nesta semana pelos deputados estaduais. A direção do Hospital Universitário de Londrina cobra a retirada do projeto para que haja uma ampla discussão com a sociedade. “Precisamos fazer as discussões necessárias para entender qual será o impacto para a população desse projeto de lei, que chegou sem que tivéssemos conhecimento ou participado”, lamentou.

MODELO CINQUENTENÁRIO

Ex-reitor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), que administra o HU, Sérgio Carvalho lembrou que o atual modelo da unidade segue o mesmo desde sua origem, há 50 anos, e que uma mudança repentina pode trazer prejuízos nos atendimentos. “Uma não discussão de um projeto dessa natureza pode comprometer esse modelo e isso é uma grande preocupação. Enquanto docentes defendemos o modelo de intervenção da universidade junto à sociedade”, afirmou o docente, que atualmente é pró-reitor de Planejamento da universidade.

Manifestantes vestiram preto como símbolo de "luto" pela proposta do Estado
Manifestantes vestiram preto como símbolo de "luto" pela proposta do Estado | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

FORMAÇÃO ACADÊMICA

O HU é um hospital-escola que trabalha com ensino, pesquisa, extensão e assistência. Um dos grandes receios é de que uma alteração no atual organograma afete a formação dos estudantes. “O HU em todas suas divisões administrativas possui docentes, inclusive, prestando assistência à população. Para que as atividades aconteçam com a qualidade necessária, na prestação de serviço e ensino, é necessário que exista a união dessas administrações. O HU é responsável por fomentar a capacitação dos nossos docentes e dos profissionais que vão atender nossa região e Estado", afirmou a professora Andrea Name Simão, diretora do CCS (Centro de Ciências da Saúde).

O CCS reúne 2.500 estudantes com vinculação com o HU, 356 docentes inseridos na prática hospitalar e 51 programas de residência médica e não médica. A instituição atende os 22 municípios da 17ª Regional de Saúde. Somando toda a macrorregião são mais de 90 cidades, com uma população de aproximadamente dois milhões de habitantes. Os alunos que têm se mobilizado contra o projeto de lei comentaram sobre o medo com o futuro do hospital e do ensino em caso de terceirização.

“Nós não sabemos a quem vamos entregar um centro tão importante, que é um bem do próprio povo paranaense, que é o HU. Temos docentes, servidores de carreira, muitos com alto grau de conhecimento e muitos graduados com mestrado, doutorado e tem muita experiência na gestão pública, o que foi demonstrado durante o período de pandemia da Covid-19. Por que vamos trocar algo que nós sabemos que está dando certo?”, questionou Pedro Luis Candido de Souza Cassela, aluno de medicina e representante dos estudantes.

EXPERIÊNCIAS

Segundo a presidente do Conselho Municipal de Saúde, a terceirização de instituições de saúde já se mostraram problemáticas em experiências recentes, como os casos dos hospitais da Zona Norte e Sul, que passaram a gestão para a Funeas (Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Estado do Paraná). “No conselho recebemos várias reclamações de usuários relatando a falta de medicação e atendimento, de servidores que recebem valores menores de salário, alguns com atraso de pagamento”, alertou Rita de Cássia Domansky.

MOBILIZAÇÃO

Os reitores da UEL e a superintendente do HU foram para Curitiba acompanhar a votação na CCJ e reforçar os apelos para que o projeto seja retirado de pauta ou, pelo menos, não haja votação no plenário da assembleia. “Temos o apoio da UEM (Universidade Estadual de Maringá) e da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), que junto conosco estão pedindo a suspensão da tramitação, porque são hospitais que igualmente serão muito afetados. A UEL não está sozinha”, garantiu a reitora em exercício da UEL, Laura Brandini, que também é diretora do Centro de Letras e Ciências Humanas.

Em nota, a diretoria do Sindiprol/Aduel, que representa os professores, classificou o envio do projeto de lei às vésperas do recesso parlamentar como "desrespeito ao processo democrático" e declarou que "a privatização da gestão hospitalar do HU desrespeita a autonomia universitária e dá o tom de um governo que age como preposto do mercado e que se compromete muito mais com os interesses privados do que com os interesses públicos e legais da população paranaense."

****

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.