O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) aprovou nesta terça-feira (20) uma advertência por escrito ao deputado Renato Freitas (PT), que chamou o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSD), de “corrupto” na sessão plenária do dia 9 de outubro do ano passado. Também na sessão desta terça, o Conselho nomeou o deputado Matheus Vermelho (Progressistas) para relatar o processo em que Traiano é alvo de um pedido de cassação, a pedido de Freitas.

A representação contra Traiano é baseada na confissão do deputado, feita ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) no fim de 2022, em que ele admitiu ter recebido R$ 100 mil para renovar o contrato da TV Assembleia com a TV Icaraí, pertencente ao Grupo J. Malucelli. Segundo o MP-PR, houve crime de corrupção passiva, o que levou à formalização de um Acordo de Não Persecução Penal. O ex-deputado Plauto Miró Guimarães (União Brasil) também teria recebido R$ 100 mil.

Renato Freitas cobrou ontem uma posição dos demais parlamentares em relação ao caso. “Hoje eu me deparei com uma punição no Conselho de Ética e qual o crime? Falar a verdade. Ninguém aqui se levantou. O presidente da Assembleia ainda é o mesmo, e como presidente representa todos vocês. Vocês não estão incomodados, então a corrupção não é exceção, não é excrescência a ser extirpada nesta Casa. Pelo contrário, é a essência de um comportamento”.

Integrante do Conselho de Ética, a deputada Ana Julia (PT) pediu a extinção do processo, que estaria prescrito por excesso de prazo (ela argumenta que a representação começou a tramitar no dia 20 de outubro, e não no dia 30). O presidente do Conselho, deputado Jacovós (PL), encaminhou o pedido da parlamentar para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alep, que dará a palavra final. “Não existe condenação ainda. Houve um recurso regimental, aceito por essa presidência”, disse Jacovós.

Punido com advertência por chamar Ademar Traino de "corrupto", Renato Freitas cobrou os demais parlamentares a se posicionarem: "Vocês não estão incomodados, então a corrupção não é exceção,  não é excrescência a ser extirpada nesta Casa. Pelo contrário, é a essência de um comportamento"
Punido com advertência por chamar Ademar Traino de "corrupto", Renato Freitas cobrou os demais parlamentares a se posicionarem: "Vocês não estão incomodados, então a corrupção não é exceção, não é excrescência a ser extirpada nesta Casa. Pelo contrário, é a essência de um comportamento" | Foto: Orlando Kissner/Alep

“DOAÇÃO DE CAMPANHA

Na primeira vez em que falou sobre o acordo com o MP-PR, Ademar Traiano disse na tarde da última segunda-feira (19) que os R$ 100 mil pagos em 2015 por Vicente Malucelli, representante da TV Icaraí, foram uma “doação de campanha”. O processo corre em sigilo de Justiça e a denúncia foi divulgada pela RPC TV em dezembro do ano passado.

“A própria Globo, na primeira matéria, disse que foi uma doação de campanha e eu continuo afirmado que foi uma doação de campanha”, afirmou o presidente da Alep. “O acordo que eu fiz foi dentro da legalidade, não respondo a nenhum processo. Estou com a consciência tranquila, fiz aquilo que a lei me permitiu”.

Questionado sobre seu silêncio nos últimos meses e a respeito da ação da movida ainda dezembro para impedir que os veículos de comunicação divulgassem o caso, Traiano disse que estava exercendo seus direitos. “Eu não sumi, eu continuo aqui como presidente. É um direito que eu tenho de buscar aquilo que a lei me permite fazer, e portanto eu não quero discuti o assunto”, disse. “Há outros elementos e todo mundo sabe o porquê desta delação premeditada e de uma gravação criminosa que foi feita em meu nome”.

A representação contra Traiano é baseada na confissão do deputado, feita ao Ministério Público  no fim de 2022, em que ele admitiu ter recebido R$ 100 mil de propina
A representação contra Traiano é baseada na confissão do deputado, feita ao Ministério Público no fim de 2022, em que ele admitiu ter recebido R$ 100 mil de propina | Foto: Orlando Kissner/Alep

A prestação de contas de Ademar Traiano junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referente à eleição de 2018 (a primeira depois do suposto pagamento), não mostra nenhuma doação no valor de R$ 100 mil. Naquele ano, o próprio Traiano foi o maior doador da própria campanha, com R$ 191.822,12, sendo R$ 150 mil em espécie. Na busca pela reeleição, em 2022, o deputado destinou R$ 120 mil para a própria campanha. O maior doador foi a direção estadual do PSD, com R$ 481.557,01.