Curitiba – A Assembleia Legislativa (AL) do Paraná aumentou as restrições de segurança nesta quarta-feira (23), véspera da votação em segundo turno da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017. Por conta da mobilização dos servidores públicos, que protestam contra a suspensão da data-base, definida no texto, a Casa Militar voltou a fechar o acesso à primeira galeria e às tribunas de honra. Até mesmo a entrada dos profissionais de imprensa em diversos espaços, antes públicos, foi controlada.

A direção da Casa reconheceu os excessos e pediu desculpas
A direção da Casa reconheceu os excessos e pediu desculpas | Foto: Mariana Franco Ramos



A FOLHA só conseguiu acesso à sala onde o presidente Ademar Traiano (PSDB) concedia coletiva no final da entrevista, passando pelo comitê e, na sequência, por dentro do plenário – o que é permitido apenas antes e após as sessões. Havia cordões de isolamento na porta principal e em todos os corredores. Depois, durante alguns minutos, a reportagem foi impedida de sair do primeiro balcão, onde falava com representantes do Fórum das Entidades Sindicais (FES), com empurrões. "Se não queria ficar, por que entrou?", perguntou um dos seguranças.

A direção da Casa reconheceu os excessos, pediu desculpas e informou que medidas já foram adotadas para garantir a livre circulação dos jornalistas, bem como evitar qualquer tipo de confronto com os demais trabalhadores que circulam pelo prédio. O próprio chefe do Parlamento disse que a orientação não era essa. "Se aconteceu, eu vou tomar as providências e repreender quem agiu", afirmou. Uma reunião com a equipe de segurança aconteceria na tarde de hoje.

Para a professora Marlei Fernandes Carvalho, coordenadora do FES, porém, o que existe na AL atualmente é um Estado de exceção. "Isso não tem mais jeito. A repórter acabou de se agredida aqui na nossa frente, nós também. Não se pode mais falar a verdade, não se pode mais nada. Não podemos entrar falando, só entra mudo agora, não pode entrar com cartaz, mas no dia que vêm os movimentos de direita, pode colocar a faixa que for".

Tanto o líder do governo, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), como o da oposição, Requião Filho (PMDB), também condenaram as restrições. "Até eu acabei discutindo hoje com a segurança da Casa. Penso que eles ultrapassaram o limite do bom senso", opinou Romanelli. "Eu me sinto envergonhado. Tudo isso mostra que a Casa tem medo do povo. Infelizmente, parece que os deputados da base do governo não conseguem aceitar críticas, construtivas ou não", completou o peemedebista.

SESSÃO DE 21 MINUTOS

Aprovado ontem em primeiro turno, com 34 votos favoráveis e 18 contrários, o substitutivo da LDO volta à pauta nesta quinta-feira, às 14h30. O regimento interno da AL prevê um interstício de 48 horas entre uma votação e outra. Como hoje não havia pontos polêmicos na ordem do dia e ninguém se inscreveu para discursar, a reunião durou apenas 21 minutos. "Foi rápida porque os deputados do governo queriam evitar a exposição aos manifestantes", alfinetou Requião Filho.

O peemedebista disse que a votação de amanhã será "mais do que previsível". "Vão votar em bloco fechado novamente, contra os servidores do Paraná". Entretanto, voltou a falar que entrará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Tribunal de Justiça (TJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF), para buscar reverter a decisão.

Traiano, por sua vez, considerou a aprovação da LDO "fato consumado", uma vez que a liminar da oposição foi derrubada. "Isso [Adin] é do direito deles. Se um segmento ou outro se sentir prejudicado, acredito que deve recorrer sim à Justiça. Nós vamos acatar a decisão e aguardar o que possa acontecer".

Conforme Romanelli, a crítica em relação à suspensão do reajuste é despropositada. "O País atravessa uma crise muito grave, a gente sabe que nesse momento tem de tomar medidas muitas vezes amargas, que não são desejadas por ninguém. Mas temos de agir com prudência". Enquanto ele concedia entrevista, os trabalhadores entoavam vaias e gritos como "Richa, caloteiro" e "ão, ão, ão, voltou pro camburão".