Agenda não atendeu ao Planalto
PUBLICAÇÃO
domingo, 02 de janeiro de 2000
Agência Estado
De Brasília
Além de manter uma agenda própria, os deputados marcaram sua independência ao impulsionar dois temas em relação aos quais o governo não mostrava interesse: as reformas do Judiciário e tributária e a emenda que limita a edição de medidas provisórias. Por iniciativa do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), as duas reformas foram votadas nas comissões especiais.
No Senado, ACM irritou o governo ao aprovar a emenda que limita as MPs. O resultado foi acachapante: 70 votos a 0 contra o governo. Defensor isolado dos interesses do Planalto no caso, o líder do governo na Casa, senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), se absteve.
Já o tratamento dado aos temas preferidos pelo governo federal não foi homogêneo. O projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo, ainda não foi votado pelo plenário da Câmara, mas a comissão especial preservou a proposta original do governo. A proposta que proíbe a venda de armas está paralisada na Câmara. Por outro lado, a idade mínima para requerer aposentadoria caiu, mas o presidente Fernando Henrique Cardoso foi dissuadido em agosto de enviar ao Congresso uma nova emenda constitucional para restabelecê-la. Ele preferiu enviar um projeto de lei criando o fator previdenciário.
Para um fiel aliado do governo, o deputado José Carlos Aleluia (PFL- BA), o comportamento do Congresso não surpreendeu: O Legislativo comporta-se conforme a população se comporta e era natural que a hegemonia do Executivo diminuísse, na medida em que o presidente se tornou uma figura impopular. Para Aleluia, a tendência poderá mudar em 2000. Já se percebe um processo de recuperação da imagem do governo e a hegemonia do Executivo deve reinstalar-se.
O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), considera que parte da responsabilidade pelo distanciamento é do próprio governo. Em momentos de crises agudas o Congresso ofereceu tudo que o governo queria e algumas coisas não foram resolvidas; logo, o Legislativo tornou-se mais crítico, explicou ele.
A independência do Congresso, contudo, não entusiasma a oposição a Fernando Henrique. Lamentavelmente, o que ocorreu este ano é que o Congresso muitas vezes ficou à direita do próprio presidente da República, afirmou o líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ), citando como exemplo as reformas tributária e do Judiciário. Nessas duas questões, o Congresso teve uma identidade total com os setores mais conservadores da classe dominante. Para Miro, o único sinal de independência que alenta os oposicionistas é a emenda que limita a edição de MPs. Esta sim, se for aprovada na Câmara, será um marco na autonomia do Legislativo.

