Agência Estado
De Brasília
O presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e o líder do PMDB, Jáder Barbalho (PA), voltaram ontem a trocar insultos e acusações no plenário. Durante 1 hora e 20 minutos, eles se valeram de vários argumentos para atacar a reputação um do outro. ACM chamou Jáder de ‘‘corrupto, ladrão, bajulador, truculento, mentiroso e indigno’’. O líder do PMDB revidou, chamando o colega de ‘‘corrupto, ladrão, truculento, farsante e mentiroso’’.
‘‘V.Exa. autorizou a comprar a aparelhagem de um hospital por quatro vezes mais’’, afirmou ACM, lendo notícia publicada na imprensa. ‘‘Governador baiano favoreceu firma da qual ele próprio é acionista’’, revidou Barbalho, igualmente se referindo a uma matéria publicada.
Antonio Carlos Magalhães entregou à Mesa do Senado autorização para que seja quebrado seu sigilo fiscal e bancário, além de fornecer documentos sobre o patrimônio que possui. Ele desafiou Barbalho a fazer o mesmo, mas o líder ignorou a questão no discurso. Mais tarde, o peemedebista distribuiu uma nota em que comunica ao vice-presidente do Senado, Geraldo Melo (PSDB), que colocava à disposição seu sigilo bancário e duas declarações de bens e rendimentos ‘‘nos períodos em que a Mesa desta Casa julgar conveniente’’. Barbalho manteve a proposta de que também empresas e pessoas ligadas a ele e a ACM devem ter as contas investigadas. Ele ficou de apresentar ‘‘oportunamente’’ a relação de pessoas físicas e jurídicas que devem adotar essa providência.
Segundo ele, ao tomar essa medida, ACM, na realidade, esconderia, de forma velada a tentativa de ofuscar as acusações que recebeu da ex-primeira-dama de São Paulo Nicéa Pitta. ‘‘V. Exa tentou armar um circo nesse processo que terá de responder no Conselho de Ética’’, acusou, referindo-se a uma representação formulada ao conselho contra o senador pelo deputado estadual Paulo Ramos (PDT-RJ). ACM apontou denúncias contra Jáder quando este ocupou os ministérios da Previdência, da Reforma Agrária e o governo o Pará. ‘‘Foi na Previdência que V.Exa agiu mais’’, acusou. ‘‘E que coragem, até burlou o fisco quando era governador’’. Ele listou seis obras contratadas pelo então ministro Barbalho com os preços superfaturados quando ocupou essa pasta. Também relacionou três atos ‘‘normativos condenáveis para o caixa do ministério.
Na troca de agressões eles incluíram nomes de autoridades como o presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, senadores e deputados. Ao retrucar a acusação de Barbalho de que seria grosseiro no tratamento a Fernando Henrique, o presidente do Senado disse que sua intenção como aliado do governo é a de orientar o presidente. ‘‘Nunca ninguém falou tanto contra o presidente no meu gabinete como V.Exa.’’, acusou ACM. Barbalho disse que, como presidente do PMDB, não deveria mesmo esperar por um tratamento mais cortês de ACM ‘‘que não tem apreço nem pela cúpula de seu partido’’. ‘‘Aquele grande baiano, Dorival Caymmi, se inspirou em V. Exa. ao fazer aquela música’’. ‘‘É a que diz João Valentão é brigão, pra dar bofetão não presta atenção e nem pensa na vida, a todos João intimida.’’
Os discursos foram acompanhados com atenção pelos senadores. Tanto ACM como Barbalho tinham ao lado várias pastas e documentos que exibiram quando subiram à tribuna. Primeiro a falar, o presidente do Senado sugeriu que Barbalho e não ele teria um relacionamento maior com a empreiteira OAS, de seu genro. Pela denúncia da ex-primeira-dama de São Paulo Nicéa Pitta, ACM teria pressionado a prefeitura de São Paulo para favorecer a empresa de seu genro.
O presidente do Senado questionou a iniciativa do líder do PMDB de abrir as contas de empresas e de outras pessoas, além deles dois, por entender que a medida ‘‘é protelatória, diversionista e pode implicar em prejuízo às investigações’’. ‘‘Se eu fui acusado, tenho de me defender’’, justificou. ‘‘Tenho certeza de que nós, senadores, vamos sair engrandecidos deste debate.’’
O líder do PMDB pediu a palavra logo em seguida para reclamar da declaração do senador baiano, de que ele ‘‘nunca trabalhou, nunca teve uma carteira assinada’’. ‘‘Toda vez que ele se vê encurralado, sai por aí falando de sigilo bancário e de dossiês’’, argumentou.
Um dos momentos mais tensos foi quando ACM, escutando o discurso de seu colega, tentou intervir de seu lugar no plenário. ‘‘Não concedi aparte, ouça calado a풒, rebateu Barbalho. Quando pôde falar, ACM revidou dizendo que Barbalho, sim, é que era truculento ‘‘e o seu partido vive intimidado pela sua trubulência’’. ‘‘Quando V. Exa. quiser altear o debate sobre nossas vidas, vamos fazê-lo, mas não vá ao chão, não vá à lama’’. Na vez em que pôde retrucar, o líder Jader Barbalho disse que, para ele, o discurso de ACM foi ‘‘um punhado de desaforo’’.