Não é novidade para ninguém, que a extrema direita é xenófoba. Os pedreiros, pelo mundo afora, têm tido muito trabalho pela frente! Trump gastou cerca de US$ 15 bilhões para construir o infame muro na fronteira com o México. Há onze anos, já a Turquia e a Grécia assim o fizeram. Em Calais, o Reino Unido gastou milhões de libras desde 2015, para se proteger dos emigrantes que chegam pela França. Budapeste colocou há anos mais de 3 mil policiais a postos na fronteira meridional, onde 3,5 mil homens já estavam em serviço. Há seis anos, o governo da Macedônia iniciou a construção de uma barreira de 1,5 quilômetro de rede e arame farpado na fronteira com a vila grega de Idomeni. Enfim, a lista seria grande!

Contudo, estas perversas muralhas de pedra em cima do mundo globalizado são a ponta do iceberg de uma mentalidade que se vem afirmando em países governados por conservadores, no pior sentido do termo. Emigrantes são perigosos, em sua ótica; eles roubam postos de trabalho, infestam as periferias com templos estranhos à história desses países e logo começam a se imiscuir na política local, tornando-se em muitos casos, candidatos a cargos públicos! Ora, isso assusta os autoritários governantes! Eles são hipócritas, duplamente! Ao se incomodarem com o fator religião, não conseguem esconder que o catolicismo em seus países está pálido e enfermo, com as igrejas vazias! Ao manifestarem incômodo com a quantidade de refugiados, não se atrevem a confessar o quanto, pelos baixíssimos números na natalidade local e o subsequente envelhecimento de sua população, eles precisam de mão de obra urgente! A pseudoproteção dos valores nacionais não passa da forma mais esdrúxula do nacionalismo que vem infestando boa parte do mundo neste século e que em muitos casos se reduz a um ufanismo ridículo!

Portugal e Alemanha são dois dos países que melhor se posicionaram em relação às ondas de refugiados, que há mais de quinze anos assolam o Mediterrâneo. É convicção deles, que a acolhida obedece a dois critérios: humanitário e econômico. No caso de Portugal, se sobrepõe o ingrediente histórico na acolhida aos cidadãos de língua portuguesa. Isso inclusive trouxe-lhe dissabores em Bruxelas, à luz do espaço Schengen, que é um dos pilares do projeto europeu. Desde a sua criação, em 1995, o controle de passaportes foi abolido e os cidadãos passaram a ter direito à livre circulação na UE. O primeiro ministro português, socialista, já afirmou que Portugal necessita de cerca de 70 mil estrangeiros por ano, para compensar o déficit na população local. Em relação a brasileiros e africanos, as leis de emigração têm sido cada vez mais brandas e ágeis. O que não significa o desaparecimento de situações de clandestinidade ou irregularidade. Ao se apontar o número oficial de 252 mil em Portugal, com um aumento de 23% em seis meses, há quem arrisque dizer que temos meio milhão de brasileiros na terrinha! As razões dessa fuga para a Europa são absolutamente normais em termos do processo migratório populacional! O sobrenome dos brasileiros assim o confirma, e a movimentação dentro do continente europeu nos anos 60, idem! As pessoas fogem da miséria e da fome, ou até da perseguição e buscam uma vida melhor onde lhe é facultada.

As cenas que temos visto em Portugal, denotando racismo, discriminação ou xenofobia, são absolutamente condenáveis, mas não refletem, nem de longe, o pensamento nacional sobre a presença de estrangeiros. Porém, temos uma pedra no meio do caminho! A extrema direita portuguesa bateu nos 10% da população e, isso sim, é um grande motivo de preocupação! A ideologia do “Chega”, o partido extremista, prega tudo que ilustra este artigo e vai parindo situações constrangedoras e criminosas, como a denunciada pelo casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. A ONU tem, sim, motivo para afirmar que o racismo na minha terra poderá ser considerado sistêmico se não houver uma grande guinada. Vejo com satisfação a consistência da democracia em Lisboa e a muralha instransponível para os extremismos, mas, mesmo minoritários, eles conseguem fazer um grande estrago! Basta nos olharmos, por aqui!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, da Arquidiocese de Londrina