A saúde pública não pode ser motivo de disputas políticas, muito menos a vacina contra a Covid-19 num momento em que a pandemia já matou mais de 162 mil brasileiros, segundo pesquisa divulgada na terça-feira (10).

Mas mesmo num momento grave para o país e o mundo, estão sendo observadas disputas políticas e ideológicas, como a troca de acusações entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o governador de São Paulo, João Dória.

Ontem, mais um triste capítulo desses embates se deu por causa da morte de um voluntário dos testes da vacina Coronavac, pesquisa do Instituto Butantã (SP) em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

Em resposta a um seguidor do Facebook, o presidente desferiu a seguinte frase: “Morte. Invalidez, anomalia. Esta é a vacina que Dória queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la (sic). O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha.”

Uma disputa nestes termos, destoa do momento triste pelo qual passa o país, onde não há ganhadores. Enquanto a Anvisa divulgava a notícia da suspensão dos testes com o imunizante, para analisar o caso adverso acontecido com o voluntário, o fato ganhava uma dimensão política que tem sido o tom para tratar uma doença cujo vacina é pesquisada em vários países do mundo, com os estados brasileiros fazendo parcerias que só tem um objetivo: oferecer à população a possibilidade de se imunizar contra a doença que está sendo considerada um dos flagelos do século 21, com 5,6 milhões de infectados no Brasil e 1,25 milhões em todo mundo.

Não só em São Paulo o governo fez acordos internacionais. No Paraná há uma parceria para receber a vacina Sputinik do Instituto Gamaleya, de Moscou, e também a vacina do laboratório Sinopharm, da China.

No início da tarde, a imprensa noticiou que a morte do voluntário que participava do teste da CoronaVac nada teve a ver com a vacina, conforme já havia informado Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã. Segundo a polícia, a causa provável da morte do voluntário dos testes, cujo corpo foi encontrado no banheiro de sua residência em 29 de outubro, é o suicídio. O homem, de 32 anos, foi encontrado cercado de seringas e ampolas de remédios. O laudo definitivo da causa de sua morte, com exame toxicológico, ainda não ficou pronto porque depende de análises demoradas.

Ao redor do mundo, 179 vacinas estão sendo pesquisadas e a eficácia de sua aplicação deverá representar um alento em favor daqueles que poderão ser imunizados. As famílias que perderam parentes este ano, devido à pandemia, sabem da dor e sofrimento que marcaram 2020 como um dos anos mais tristes da última década. Estas pessoas certamente torcem pela ciência e não pelos excessos da política que prioriza votos em detrimento da vida.

A Folha deseja muita saúde a seus leitores!