Ufa! Enfim, está encerrada uma das mais vergonhosas e das mais lamentáveis campanhas, principalmente nos maiores colégios eleitorais do país e, particularmente, aqui no nosso município. Fruto de uma polarização nefasta, entre uma esquerda de passado maculado por corrupção e de uma extrema direita truculenta, dissimulada e autoritária, a corrida pelo voto produziu acusações falsas, injúrias, ataques pessoais em profusão, ofensas morais e outros impropérios repreensíveis.

Também exibiu, nacionalmente, episódios ainda mais graves, tais como agressões físicas entre os próprios candidatos (a cadeirada), cenas de "briga de rua" entre assessores e outras baixarias do tipo "tirem as crianças da sala", numa vileza poucas vezes assistidas em épocas de eleições. Nada de propostas concretas e bem fundamentadas.

Projetos sabidamente de dificilíssima solução a curto prazo foram prometidos, sem nenhuma explicação plausível que possa garantir o sucesso das suas concretizações como, por exemplo, reduzir a zero, em Londrina, a quantidade de moradores de rua e a fila de cirurgias eletivas, além de resolver, também de forma definitiva, o problema dos pombos no bosque central, tudo isso já no primeiro ano de mandato. A conferir!

Em nível nacional, de uma maneira geral, as campanhas se destacaram negativamente pela agressividade e desfaçatez nos debates no rádio e na televisão. Curitiba, Florianópolis, Salvador e Belo Horizonte foram alguns exemplos desse jogo rasteiro em busca do voto. Todavia, a cidade de São Paulo foi o grande palco onde a soberba, a incivilidade e a indecência desfilaram com desenvoltura. Num espetáculo deprimente, o candidato da extrema direita demonstrou todo o seu despreparo e desequilíbrio emocional, desmoralizando a concepção política do maior colégio eleitoral do país. O paulistano não merecia ser submetido a esse constrangedor aviltamento pré-eleitoral; foi de "embrulhar o estômago".

Brasil afora, assistimos atitudes que demonstram como nossos políticos pensam prioritariamente nos seus próprios interesses (desculpe a redundância) em detrimento às mazelas que assolam a grande maioria da população; o fisiologismo é o ponto alto das coligações partidárias. Exemplo clássico dessa infâmia foram as alianças, pasmem, entre o PT e o PL, partidos de ideologias profundamente antagônicas, as quais elegeram cerca de 50 prefeitos no âmbito nacional. Tal arrumação chega a ser risível, pois projeta a imagem de Bolsonaro abraçando Lula no mesmo palanque.

Em Londrina, os acontecimentos, nesse sentido, não foram muito diferentes do restante do país. O eleitor daqui também assistiu a um debate muito pobre em propostas convincentes e uma propaganda eleitoral repleta de provocações, falsidades e ataques à honra entre os contendores, eivados de calúnia, difamação e injúrias. No turno final da campanha, esse jogo sujo se recrudesceu entre o candidato apoiado pela extrema direita e a postulante do partido de centro-direita. Sem dúvida, foi um embate enfadonho, indecoroso e desprezível. Por ironia, antes do início da campanha para o 2º turno, ambos os candidatos fizeram um pacto de paz perante ao presidente do TRE-PR, prometendo a cultura do diálogo e do respeito no debate político. Pura balela!

Por tudo isso, o eleitor brasileiro está enojado com essa politicalha crônica que nos assola. Em consequência, o crescimento das abstenções é preocupante e, nessa eleição, atingiram números espantosos. Esse desinteresse é um reflexo da atuação de uma classe política onde o clientelismo, a imoralidade, a prioridade em satisfazer os próprios interesses e vantagens pessoais, em detrimento ao bem comum, constituem-se na essência da própria existência, e sobrevivência, de um sistema corrupto incrustrado nas entranhas do poder.

Entretanto, em meio a tantos infortúnios eleitorais, um fato auspicioso nos regozijou nessas eleições: a sandice propagada em pleitos anteriores, de urnas eletrônicas fraudadas e adoção do voto auditável, caiu no ridículo e saiu de moda. A inteligência agradece.

Ludinei Picelli, administrador de empresas