O escritor angolano José Eduardo Agualusa Alves da Cunha (1960) escreveu que adultos são crianças escondidas. Eu acrescento: quando vão a um show musical eles são adolescentes.

O que acontece em um show? Em particular, aquele apresentado para grandes públicos, em locais abertos, quer seja uma ilha, um campo de futebol ou praça pública. Nesses casos, os músicos, o cantor ou cantora estão distantes, ficam pequeninos para o grande público e são vistos por um telão.

No entanto, é diferente de se ver um vídeo em casa. Tudo começa com o preparo de cada um para ir àquele local. Adquirir ingresso, estabelecer os encaminhamentos para chegar no tempo adequado, sem se atrasar, verificar previamente se vai chover, fazer frio ou não para ser usada vestimenta adequada.

Acrescenta-se o calor do momento. A atmosfera inclui a capacidade do apresentador ou apresentadora chegar a cada um/a e tocar, afetar emocionalmente. Há energia transbordante de cada fã.

Quando essas energias de artistas e do grande público se misturam, ocorre algo mágico. O jovem faz gestos com as mãos, com o corpo todo, externando o contágio emocional do momento. As crianças dançam também, acompanhando as outras pessoas. Os casais com mais idade se abraçam, trocam beijinhos. Misturam-se cantos, aplausos, frases de elogio, gestos e coros são formados, não raro iluminados por celulares.

A magia compõe-se. A isso se chama show. A palavra, pelo que li, vem do inglês arcaico sceawian, “olhar, ver”. No entanto, vamos muito além. É muito mais que ver o artista que nos atrai, inspira. É deixar-se afetar por um momento de enlevo, de seguir na mesma sintonia do outro, de comover-se sem reservas, sem medo de ser feliz! A arte se faz presente.

É frequente a mistura de sons e imagens contagiantes. Tudo isso somado aos sentimentos trazidos por cada um e modificados, potencializados no conjunto de pessoas presentes são os ingredientes do caldeirão mágico que chamamos show. Porque ele é potente, mobiliza pessoas, por vezes transformando-as, seguimos a expressão “o show tem que continuar”.

A vida não basta, precisamos da arte, como disse Ferreira Gullar. Em resumo: ir a um bom show é como ir ver o time de futebol do nosso coração jogar e ganhar, sem presença de torcida contrária. É só alegria!


Ps.: Texto escrito ainda sob o impacto que sinto por ter visto, participado do show apresentado pelo Sir Paul McCartney e sua banda, com tecnologia de ponta e, acima de tudo, com acolhimento mútuo dos músicos e do público. Momento ímpar!


Lucinea Rezende é professora aposentada em Londrina


Insensibilidade
As mudanças climáticas, além de mostrar a incompetência de nossas autoridades desde o descobrimento do Brasil, também mostram a insensibilidade das "otoridades " com ambientes escolares sem ventilação adequada, escolas improvisadas com alunos estudando praticamente em baias em muitos lugares do país. A pergunta que não quer calar: se algum aluno que sofre com o calor escaldante fosse filho de algum senador, deputado, prefeito ou alguma "otoridade" importante, a situação degradante seria a mesma? Este cenário jamais aconteceria porque eles não deixariam seus filhos em escola pública, afinal eles sabem que educação é básica só no tempo de eleição para enganar os inocentes de plantão. A desigualdade no Brasil nunca vai acabar porque ela é mãe do analfabeto funcional que só funciona para votar. Vocês queimam a cara do povo de vergonha.
Manoel José Rodrigues (assistente administrativo) - Alvorada do Sul