Quem é mais velho não esquece. E os mais jovens já devem ter ouvido histórias. A forte geada que queimou os cafezais do Paraná está completando 45 anos. Foi em 18 de julho de 1975 que as temperaturas geladas acabaram com o principal produto agrícola do estado naquela época.

Muitas famílias viram sua história mudar da noite para o dia. O gelo que se formou na madrugada ficou no dia seguinte por um bom período na terra e gramados. A temperatura atingiu 6º C negativos. O Paraná era o maior produtor de café do País, responsável por 50% da produção brasileira, e Londrina era chamada de “capital mundial do café”.

Em 1970, o Paraná possuía 1,120 milhão de hectares de café. Hoje possui 38 mil hectares de café. A Folha de Londrina do dia seguinte à tragédia estampou na manchete o título “Não sobrou um único pé de café.” A submanchete relatou também que o Ministro da Indústria e Comércio e o presidente do IBC vieram a Londrina no sábado (19) para fazer a avaliação dos estragos.

No começo da década de 1970, o Paraná já começava a buscar uma diversificação das culturas, mas a geada acabou acelerando esse processo, inclusive de mecanização da cultura, como contou à reportagem da FOLHA deste fim de semana o analista do Deral (Departamento de Economia Rural), Paulo Sérgio Franzini. Ele mesmo foi uma testemunha da destruição da lavoura pelo frio, pois era criança em Mandaguari e o pai tinha uma plantação de café.

A geada formou-se de uma hora para outra e a maioria dos produtores não estava preparada. O café empregava famílias numerosas e muita gente acabou migrando da zona rural para a urbana. Uma crise enorme para o estado sob o ponto de vista econômico e social. O fenômeno acabou acelerando a diversificação da cultura no Paraná por um tempo e depois o estado se voltou para a soja.

Um fenômeno natural mudou drasticamente a história do Norte do Paraná e Londrina, que ainda guarda na cultura e em nomes de ruas e prédios públicos a lembrança de um tempo da riqueza do "ouro verde", precisou se reinventar, abraçando e descobrindo outras vocações.

Hoje, não só o Norte do Paraná, mas o mundo todo enfrenta um outro fenômeno que vai obrigar a humanidade a se reinventar: a pandemia do novo coronavírus. Ninguém viu como o coronavírus surgiu e ainda não dá para prever suas consequências. O fato é que precisamos tirar lições desses eventos raros e imprevisíveis que vêm para impactar a vida das pessoas.

Obrigada por ler a FOLHA!