Há uma enorme concordância de que o ano que há pouco iniciamos será tenso e desafiador. Trump tem potencial para torná-lo ainda mais inquietante, porquanto a política norte-americana influencia sobremaneira todo o planeta. A sua postura, já conhecida, sobre a questão climática, imigração, democracia, guerras em curso e protecionismo, dará a 2025 a textura de um ano “sui generis”. A conferir!

2024 foi o ano mais quente da história em várias regiões e o ano em que as mudanças climáticas mostraram, sem pudor, os seus riscos e destruição. Junto com as insubstituíveis perdas humanas, foram bilhões de dólares em prejuízos, afetando o PIB e a economia (inclusive no Brasil). Os pobres são as principais vítimas e tornam-se miseráveis buscando a sobrevivência. Com isso, aumentam os refugiados e as tensões entre continentes, que agora vêm acrescidas com o atrevimento da extrema direita em propor as suas aberrantes agendas, ocupando espaço político em vários países. A mudança climática encontra neles o negacionismo e a pretensão de insistir nos combustíveis fósseis, aparentando certa provocação à ciência.

O genocídio em Gaza configura o extermínio de um povo. Começou com razões plausíveis de defesa do Estado de Israel perante os atos terroristas do Hamas, mas ao longo dos meses mostrou uma carnificina, alimentada por razões políticas internas. A Palestina, com o direito adquirido de ser um país, demorará décadas para ressurgir!

A “martirizada” Ucrânia, que viu o seu território invadido pelo autocrata Putin, luta desesperadamente para não sucumbir e acredita que a paz possa chegar, não sem a humilhação de perder algumas regiões. Com isso, abre-se o precedente de que uma nação forte possa ter prerrogativas de subjugar uma menor! É a barbárie medieval!

Neste contexto geopolítico mundial, provocador de desânimo e pessimismo, emerge mais uma vez o Papa Francisco. Um líder não é apenas um chefe! Este precisa do poder de persuasão para se impor sobre os subordinados; a liderança se conquista com coerência, coragem e empatia. Francisco é um líder! Na Igreja Católica, a cada 25 anos celebra-se um Jubileu. É um termo usado no Antigo Testamento que tinha como fim reordenar a relação com Deus, entre as pessoas e com a criação e implicava a remissão de dívidas, devolução de terras arrendadas e o repouso da terra.

Em Lc 4, 18, o próprio Jesus anuncia o seu “programa” como um ano especial “da Graça do Senhor”. Desde 1300, a Igreja celebra “esse ano especial” a que chama de Jubileu. Destarte, Francisco o convocou e lhe deu um tema, um mote: “Peregrinos de Esperança.” Não uma “esperança qualquer”, e sim a Esperança “que não decepciona” (Rm 5,5). Francisco foi certeiro! É de esperança que todos vivemos e é de esperança que todos necessitamos.

Contudo, o Papa foi mais longe! Arrojado, como tem sido desde sua eleição, ele propõe ao mundo um desafio: que os países ricos perdoem a dívida dos países pobres! “Que nenhuma pessoa, nenhuma família, nenhum povo sejam sufocados pelas dívidas", assim ele clama. A lógica parece simples: se no Pai Nosso pedimos o perdão de Deus e nos comprometemos a perdoar, então devemos trazer essa “remissão” para o plano social, começando, é claro, pelos governantes de inspiração cristã.

Ninguém de bom senso no mundo duvida que uma boa parte das dívidas já foi paga com juros, em não poucos casos, exuberantes. Dívidas oprimem. Impedem o desenvolvimento. Historicamente beiram a perversidade, uma vez que, em geral, os credores são os que no passado foram exploradores das matérias-primas! Pedir o perdão das dívidas é ter a coragem de apelar para um gesto que faria uma enorme diferença para países massacrados por elas. Pessoalmente, tenho dificuldade em acreditar no sucesso de Francisco; mas tenho esperança de que gestos como este, tão provocadores quanto razoáveis, fazem a diferença!

Pe Manuel Joaquim R. dos Santos - Arquidiocese de Londrina