O 31 de março de 1964 marcou o início do governo militar no Brasil. Uma longa noite que só terminou em 1985 ainda com as eleições indiretas de Tancredo Neves. Mas há diferenças fundamentais entre o ontem e o hoje na vida política do País.

Se há 57 anos o Brasil acordou com os tanques do Exército nas ruas, agora três comandantes das Forças Armadas acabam de desembarcar dos seus postos no governo : Edson Leal Pujol (Exército). Ilques Barbosa Júnior (Marinha) e Antonio Carlos Bermudez (Aeronáutica) já tinham decidido pedir demissão, antes mesmo do encontro com o general Walter Braga Netto que acaba de assumir o ministério da Defesa no lugar do general Fernando Azevedo e Silva , demitido na véspera pelo presidente Jair Bolsonaro, por discordar do Exército participar de manifestações políticas em favor do governo.

Com a demissão de Fernando Azevedo e Silva, veio a saída dos outros três militares que ocupavam postos-chave. São generais que não querem intervir na vida civil como muitos propagam, inclusive, em manifestações nostálgicas que pedem "a volta do regime militar."

Em novembro de 202O, o comandante Edson Leal Pujol já havia deixado bem claro que " o Exército não tem partido." Além de arrematar: "Nosso partido é o Brasil." Da mesma forma, enquanto esteve à frente do ministério da Defesa, Fernando Azevedo e Silva também foi muito claro afirmando "as Forças Armadas como instituições do Estado" e não deste ou daquele governo.

A postura destes comandantes contrasta com a do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello que num confronto com Bolsonaro durante a gestão da pandemia do coronavírus demonstrou uma subserviência que, no fim das contas, de nada lhe valeu. "Um manda e o outro obedece", disse. Da mesma forma que o general Braga Netto assume a Defesa vaticinando: "Missão dada é missão cumprida."

Há quem considere que a saída dos militares moderados do governo pode abrir brechas à turma radical, que vem sem avaliar muito bem o terreno onde estão pisando. Mas o País de hoje não é mais o de 1964. Embora haja parte da população sonhando com "a volta do regime militar", isso tem mais cara de delírio do que vontade nacional. O desejo é de uma minoria que é motivo de vergonha até nas próprias manifestações pró-governo.

Mas na falta de terreno para um "golpe militar", alas governistas ainda tentaram aprovar, a toque de caixa, pelo deputado Vitor Hugo (PSL- Goiás), um projeto para votação na Câmara de um tal Estado de Mobilização Nacional, o velho estado sítio, para dar plenos poderes ao presidente da República usando-se como trampolim o combate ao coronavírus. Numa espécie de 7 a 1 da politica , o projeto sequer entrou na pauta de votação. Ou seja, naufragou a ideia de tirar poder dos governadores, usando-se como desculpa o combate à pandemia, e paralelamente naufragou a intenção do governo tentar comandar as Polícias Militares estaduais. Não restam dúvidas que essas forças vão tentar agir de novo, mas o Brasil de hoje não é o Brasil de 1964, o 31 de março é outro.

A FOLHA deseja aos seus leitores um País com muita democracia!