Segundo cientistas do observatório europeu Copernicus, janeiro de 2024 marcou o oitavo mês consecutivo de recordes de calor na Terra. Desde junho, temos registrado um mês mais quente a cada novo período. E, por causa disso, os cientistas do observatório europeu já confirmam que 2023 quebrou recordes, sendo o mais quente da história, e 2024 continua num ritmo preocupante.

Muitos podem questionar qual a sinergia da dengue com as mudanças climáticas e dengue, entretanto é consenso estes cientistas e pesquisadores que o preocupante avanço da dengue é um dos sintomas do aquecimento global.

Normalmente, consideramos os órgãos públicos de saúde como responsável pelo controle de doenças, e estes são feitos, entretanto, em casos como a dengue, e mesmo com o máximo esforço dos órgãos de saúde não será suficiente, porque a natureza do Aedes aegypti, vetor da dengue, é propício à proliferação em ambiente com altas temperaturas. Temos também a ação do terceiro setor, buscando alternativas e soluções, mobilizando e engajando pessoas ao combate da dengue.

Não cabe apenas aos órgãos públicos de saúde a prevenção e o combate a dengue. Não cabe apenas o terceiro setor buscar alternativas e soluções, como estamos fazendo a frente do Centro Brasileiro Inovação e Sustentabilidade. Não cabe apenas as pessoas cuidar das suas casas e do entorno. As empresas londrinenses precisam inserir nas suas agendas de ESG, ODS e de Responsabilidade Social e Ambiental o combate à dengue, assim como outras ações de cunho social local. As empresas londrinenses precisam fortalecer os esforços públicos e das organizações sociais civis, que no caso da dengue é urgente. Saúde pública é responsabilidade de todos.

Londrina no ano passado quebrou recorde nas exportações, ultrapassando mais de 1 bilhão de dólares, e pergunto quais são as contrapartidas sociais das empresas londrinenses. Existem diversas alternativas de contrapartidas sociais, mas vou aqui me restringir a dengue e a educação ambiental.

Com o avanço da tecnologia, novas soluções apontam, entretanto não estamos fazendo uso de todas elas. Os já conhecidos carros de fumacê, utilizado com intervalos de tempo pré-determinados, que consiste na emissão de uma "nuvem" de fumaça, por meio de um veículo, elimina a maior parte dos mosquitos adultos, e há também o larvicida. Mas já está disponível no mercado uma solução de biotecnologia, com os mosquitos machos modificados. A brilhante engenharia, de companhia inglesa que conta com o financiamento da Bill&Mellinda Gates Foundation, possibilita ao macho, que não pica ou transmite doenças, ao encontrar uma fêmea e houver o cruzamento, ela só produzirá larvas de mosquitos machos, acabamos assim com as larvas fêmeas, e as doenças de dengue, zica e chikungunya. Apenas as fêmeas picam. Entretanto, o ciclo do mosquito da dengue é curtíssimo. O Aedes aegypti leva em média 10 dias para se desenvolver após a eclosão, e vive durante 30 dias. Uma única fêmea produz de 60 a 120 ovos em cada ciclo reprodutivo e pode ter mais de três ciclos durante sua vida. Então uma fêmea pode produzir até 360 ovos.

É notável os esforços da dona de casa não deixando acumular água em pratos de vasos de plantas e xaxins, lavando e trocando a água dos bebedouros de aves e animais no mínimo uma vez por semana, limpando frequentemente as calhas e a laje das casas, mantendo o quintal limpo, recolhendo o lixo e detritos em volta das casas, entre outros. É notável os esforços dos órgãos de saúde e do terceiro setor, todavia, não basta. O ciclo de vida e de reprodução do Aedes é muito rápido. Corremos contra o tempo.

As empresas londrinenses precisam fazer a sua parte ao combate à dengue por princípios de sustentabilidade e de ESG que estão nas suas demonstrações financeiras e nos relatórios de sustentabilidade entregue aos seus acionistas e parceiros comerciais. ESG é a abreviação para “environmental, social, and Governance” que é a agenda Ambiental, Social e Governança, em português. Os três fatores são centrais na medição da sustentabilidade e do impacto ético das empresas ou de um negócio. "Environmental" considera como uma empresa se porta em relação a questões ambientais; "Social" avalia como ela gerencia relacionamentos com funcionários, fornecedores, clientes e as comunidades onde opera; e "Governance" trata da liderança da empresa, remunerações, auditorias, controles internos e direitos dos acionistas. ESG se tornou um critério importante para investidores que buscam não apenas retorno financeiro, mas também impacto social positivo.

A agenda ESG está intimamente ligada a sustentabilidade, visto que sustentabilidade é um tripe de ambiental, social e econômico, e questiono se não é hora de repensar os benefícios fiscais para empresas que não apoiam as iniciativas de ESG e de impacto social das organizações da sociedade civil de Londrina.

Chegou a hora do setor produtivo de Londrina se unir ao poder público, as organizações da sociedade civil e retribuir as riquezas geradas pela população londrinense, e se juntar ao esforço de salvar vidas e formação de cultura preventiva a dengue, com ações práticas de controle, de formação e de engajamento popular. A dengue já tirou 2 vidas em Londrina, de acordo com o Informe Epidemiológico, publicado pela Secretária de Saúde do Governo do Paraná, no dia 6 de fevereiro de 2024. Nós precisamos nos unir por uma Londrina protegida da dengue. É urgente!

Katiane Fátima de Gouvêa, Presidente do Centro Brasileiro Inovação e Sustentabilidade e Diretora de ESG da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais.

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