“O que leva para a Emancipação é a prática associada à reflexão.”

Hanna Arend

Estamos embarcando numa nova década do século XXI e podemos pensar como queremos ingressar e nos comportar, com que saberes com que atitudes e com que aprendizagens da pandemia que marcou o final da segunda década. Esta foi uma angustiante experiência de vida, com muitas perdas, de familiares, de amigos, de conhecidos e quantos outros que não conhecemos e jamais conheceremos.

Desta travessia ouvimos muitas narrativas de indigentes mentais que tentaram ruidosamente expor sua visão de mundo. Construtores de uma ignorância pós-moderna, ou melhor, o antigo reconstruído de repetições que consolidam a visão menor do humano, uma redução primitiva de instintos biológicos que marcam a pisada sob territórios e seus domínios com tudo que carregam de podres poderes e tradições da minimização da vida.

Nesta fase civilizacional trata-se de agregar saberes que possam melhor definir a profundeza humana e não com dizeres menores repetidos, com intensidade e velocidade próprias das médias digitais que, de maneira geral, nos cercam e determinam nosso olhar sobre o mundo.

Essas repetições desqualificadas expressa diariamente nas telas dos aparelhos que nos aproximam, e também nos distanciam das capacidades intelectuais interpretativas e qualificadas dificultando um julgamento analítico com teor mais profundo.

Quem se torna responsável pelas narrativas e suas conseqüências: a história onde não há essências, apenas o saber do não fazer; o novo cotidiano, marcado pela ansiedade vazia; o estar desqualificado de um reconstituído ser; o simples assimilar de padrões que vão se configurando pelos formatos mercadológicos que impõem o vivenciar circulante do trabalho e consumo.

Penso que não seja por aí, há outros horizontes, outras possibilidades, mesmo que não sejam por trilhas definidas, há aprendizagens na profundeza do sapiens que permite ingressar neste contexto com saberes e práticas que ajustarão observâncias evidentes a nova constituição de uma ordem ética de esgotamento, de escassez, de vidas secas de nosso tempo e, das observâncias sentidas como obra coletiva de vidas férteis para projetos futuros com dimensão de um imaginário coletivo que resulta em nosso tempo como expressão de uma obra coletiva de um desenho do amanhã, como num clássico universal, com seus capítulos e expressões reproduzindo especificidades e particularidades da mescla biótica e cultural de nossas capacidades.

O conjunto como forma será diverso, unida na diversidade fertilizada de mundos. Nossa contribuição foi e será nessa fertilidade de ideias e configurações práticas decorrentes, sem intenção de estabelecimento de compatibilidades maniqueístas que carregam saberes moralistas, subservientes as formas anteriores que determinaram a hegemonia de um mundo desconfigurado do bem viver.

Quanta aprendizagem em curso, uma travessia inacabada que permitira aprofundar a condição humana a estágios jamais atingidos em nenhuma outra idade civilizacional. Outras narrativas serão criadas, acredito que elas conseguirão captar a essência de novos tempos, com suas substâncias analíticas, fazendo com que os erros cometidos no passado possam dissolver-se com o volume maior imaginativo e criativo, de composições e significações do amanhã. Ressignificação de que o acumular, agora expressa numa capacidade cerebral de crescimento de nossas potencialidades adormecidas aguardando nossa apropriação.

Assim me sinto como catalisador de sonhos que por obrigação analítica de compreensão das narrativas permita esgotar a estupidez e acelerar os sonhos emancipatórios. Como tecer um livro que me parece inacabado, pois ele tenta dizer o que somos e porque deixamos de exercer a razão de sermos a espécie humana. Uma textura mental e digital escrita em nuvens de objetividades e subjetividades, configurando este tempo com suas formas, onde todos possam se identificar e se incluir, seja lá qual sua singularidade.

Paulo Bassani filósofo e sociólogo