Curitiba - O foco de trabalho do jornalista Frederick van Amstel é tornar a tecnologia mais humana. ''Temos de evitar que a informatização signifique mais estresse para as pessoas'', alerta.

Especialista em interação e usabilidade, Amstel é coordenador do curso de Pós-graduação em Desing de Interação do Instituto Faber-Ludens e da Faculdade San Martin.

Nesta entrevista, ele comenta os riscos de se aumentar a dependência da internet sem que a infraestrutura do país esteja pronta para isso e aponta para a necessidade crescente de implantação de programas que possam permitir o aproveitamento dos equipamentos tecnológicos descartados no país.

Dá para viver sem internet?
Acho que dá. Mas muito em breve, não. Hoje o celular é indispensável. Assim como a eletricidade se tornou indispensável no passado, agora o celular tem se tornado necessário. Ele é indispensável não pela sua utilidade para quem usa, mas para quem quer falar com o usuário. É uma coleira virtual. Eu mesmo não tenho celular, mas sofro pressão da família para ter um.
A internet se tornará indispensável a partir do momento em que deixar o computador e passar a estar presente na televisão, no celular. Vejo que há uma grande possibilidade de desenvolvimento de utilidades para a internet pela televisão, pelo celular, pelos players multimídia.

Mas a estrutura de acesso à internet no Brasil está pronta para que esse nível de dependência aumente?
Não, mas a partir do momento em que o usuário e as empresas perceberem os transtornos que a falha nesses sistemas causa, haverá naturalmente mais investimentos na área. Os problemas enfrentados pela Speedy (da Telefônica) em São Paulo já apontaram para a necessidade de se investir mais nessa infraestrutura.

O que o usuário tem que levar em consideração antes de comprar um smartphone, um netbook ou outro equipamento tecnológico?
Deve avaliar para quê ele precisa do equipamento. Há pessoas que precisam do celular, por exemplo, só para falar com uma ou duas pessoas. Como as crianças, que usam o aparelho para se comunicar com a mãe e o pai. Para outros o aparelho é uma câmera fotográfica, gravador, televisão. Mais que a utilidade, o usuário precisa estar atento ao estilo do equipamento. É importante que ele se sinta bem com os aparelhos que tem e usa.

A falta de compatibilidade entre aparelhos é uma dificuldade enfrentada por quem tem muitos equipamentos (celulares, notebooks, câmeras etc). Há solução para esse problema?
Esse é um grande problema que impede que a área tecnológica se desenvolva mais. A falta de visão dos fabricantes faz com que eles criem padrões próprios para forçar a venda de componentes. Isso impede o compartilhamento de acessórios e a interatividade com outros equipamentos. Acho que o mercado teria muito a ganhar com um diálogo maior entre as empresas e a definição de padrões globais.
A própria internet já passou por um problema semelhante. No passado, muitos programavam as páginas para seus navegadores, produzindo sites que funcionavam em um programa e não funcionavam em outros. A evolução da padronização desses códigos foi essencial para o desenvolvimento da internet. Se não fosse esse diálogo, ela não teria ido para frente.

Essa troca constante de equipamentos que ficam obsoletos cada vez mais rápido é um problema ambiental?
No Brasil é difícil falar no lixo tecnológico como lixo de verdade. Isso porque enquanto um computador fica obsoleto para um usuário, pode ser de grande valia para outra pessoa que não tem condições de comprar um computador novo. Penso que seria importante para o país que se desenvolvessem campanhas como aquela de Curitiba, do ''Lixo que não é lixo'' (campanha de separação e reciclagem de lixo da prefeitura da Capital).
O importante seria aproveitar esse potencial de máquinas que são obsoletas para uma parcela da população em ações que permitam que outras pessoas, sem tantos recursos, possam usufruir desses equipamentos. A dificuldade de se implantar uma iniciativa dessa é que ela não pode ter como foco único a máquina. É preciso ter assistência técnica, apoio técnico.