Como mostrado por esta FOLHA em 16 de janeiro último, algumas cidades já vivem a experiência do transporte público gratuito aos passageiros. Todos sabemos que os custos do transporte público são muito altos ao município, como nos lembrou o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati. No entanto os benefícios econômicos, sociais e ambientais de tal medida poderão ser muito mais compensadores.

O transporte coletivo é um grande problema e desvalorizado em detrimento do individual. Um claro exemplo disso é o que ocorre com o trânsito nas cidades médias e grandes. Em linhas gerais, o que marca o transporte público urbano é a péssima qualidade associada ao alto custo para o cidadão usuário. Tudo isso tem prejudicado o meio ambiente, o trânsito e todos que precisam se locomover por uma cidade, onde o estudo, trabalho e lazer dependem de transporte todos os dias.

É necessário que o transporte coletivo urbano passe por uma total reestruturação a fim de servir melhor ao cidadão. O transporte público precisa ser assumido como elemento fundamental em uma cidade. A mobilidade urbana precisa ser garantida a todos e em qualquer momento, com boa qualidade. Há muitos custos e atores envolvidos nas planilhas das empresas. Tudo isso é certo, mas é preciso um novo olhar.

Por mais que pareça absurdo, é possível a gratuidade do transporte público para o usuário. Repensar a questão é preciso. Reestruturar o sistema é possível. O primeiro passo seria iniciar pensando na gratuidade. A planilha deveria ser reformulada sendo orientada para o custo real do sistema.

A estrutura para manter o sistema pago poderia ser enxuta para o sistema livre, como por exemplo eliminando o terminal central (com seu custo elevado de manutenção), e redefinindo todas as linhas, já que o sistema de integração não faria mais sentido. Com certeza, a partir de estudo detalhado e transparente de todos os custos se poderia estabelecer quanto custaria “bancar” o sistema livre. A partir daí o município pagaria mensalmente à empresa responsável pelo serviço prestado.

E o dinheiro para pagar a conta? O empenho político poderia buscar desonerações em preços de combustíveis e de impostos exclusivos aos ônibus e até buscar os mesmos incentivos que são concedidos às montadoras de automóveis.

Também poder-se-ia buscar recursos específicos e permanentes junto aos Ministérios das Cidades, Meio Ambiente, Educação, Trabalho, entre outros. Os empresários poderiam continuar contribuindo com sua parte do vale-transporte, agora repassando direto ao município. Outra ótima fonte de receitas seria utilizar todo o potencial publicitário do sistema: ônibus, pontos de ônibus e terminais poderiam ser fonte de recursos de alguma forma, inclusive o espaço do terminal central.

Os desafios a serem enfrentados não são fáceis, no entanto é possível, e os benefícios seriam para todos na cidade. Circular pela cidade de ônibus sem pagar traria expressivos ganhos ao trânsito, meio ambiente, à economia, à educação, à cultura... Enfim, mesmo que o município bancasse uma parte dos custos, como já faz, o ganho social seria enorme.

Dar ao transporte coletivo seu real valor é se importar com os cidadãos em suas necessidades fundamentais de convivência no espaço urbano. Como bem salientou o professor e especialista em transporte coletivo Lafaiete Santos Neves, na Folha de Londrina, em 16 de janeiro: “A tarifa zero é muito mais do que uma simples tarifa. Ela vai dar a liberdade de mobilidade para população de baixa renda, que é composta de trabalhadores. Hoje o trabalhador só conhece o seu local de moradia e o local onde trabalha, isso é semiescravidão. A tarifa zero vai acabar com a semiescravidão e para mim esse é o valor universal maior dela”. Tarifa Zero é um grande avanço.

Wilson Francisco Moreira, cientista social em Londrina.

Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.

COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]