Somos responsáveis pelos eleitos!
Para o eleitor, o eleito é fruto da sua escolha, da sua decisão e se torna um compromisso recíproco, até que o mandato termine
PUBLICAÇÃO
domingo, 13 de outubro de 2024
Para o eleitor, o eleito é fruto da sua escolha, da sua decisão e se torna um compromisso recíproco, até que o mandato termine
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
Entre tantas mensagens que recebi no período pré-eleitoral, uma me chamou a atenção. Parece pueril; no entanto, ao fazer menção a Saint Exupéry, reveste-se imediatamente da inerente importância. “Tu te tornas eternamente responsável por quem eleges”! O paralelismo me pareceu perfeito, na essência e na forma.
De fato, para o eleitor, o eleito é fruto da sua escolha, da sua decisão e se torna um compromisso recíproco, até que o mandato termine. Esta relação, que não é evidentemente de posse, é, contudo, segmentada num pacto elaborado e resguardado pela própria democracia.
Entende-se, portanto, que o exercício do voto não encerra um processo. E, por conseguinte, deduz-se também que a morte da democracia é decretada quando esse compromisso é reduzido a cinzas. Acreditamos que um laissez-faire político, traduzido em carta branca ao eleito, é uma das causas mais explícitas do fracasso da política em si. Mas o divórcio pode acontecer a cada quatro anos! E, nisso, também a democracia sai fortalecida.
Meu amigo Clodomiro Bannwart, com a excelência literária que o acompanha, escreveu estes dias um artigo sob o título “Eu tenho nojo de política”. Não poderia ter sido mais certeiro! Dizia ele, que já Benjamim Constant, fundador da nossa República, era daqueles que sequer lia jornais, tamanha a aversão que nutria pelas discussões públicas. Ou seja, a coisa já vem de longe! Do início! Somos um povo que se vangloria de não gostar da política e que a cada dois anos, é obrigado a se dirigir a uma zona eleitoral! E se não fosse obrigatório?
Bem, os especialistas acreditam que o abstencionismo seria elevadíssimo! Se assim for, “votar na marra”, tem pouco de democrata! E, consequentemente, a sequência ao ato de votar é inexistente em todo o processo. Temos, então, uma democracia mitigada, medíocre, aparente e repleta de vazios. Os eleitos ficam “soltos” e retornam a cada quatro anos! Clodomiro acrescenta ainda um pouco de pimenta ao cozinhado, ao afirmar que “certo discurso religioso dos últimos anos, que trabalha com uma concepção mágica de mundo”, acabou complicando a educação política, que se faz necessária permanentemente.
A democracia não é perfeita, como já referia Wiston Churchill; mas, é com certeza o melhor dos mundos para a condução da “pólis”! A administração da “res pública” funciona por delegação. Em tese, o eleitor, conhecedor dos problemas e demandas que o afligem, elege quem acha mais qualificado para resolvê-los. Parece uma equação fácil, mas não o é!
Primeiro, a análise das problemáticas da cidade ou do país, sempre é condicionada a vários fatores e o eleitor pode ter uma visão distorcida da realidade. Por exemplo, quem foi assaltado, vai dizer que a segurança é prioridade, mesmo que a cidade esteja num nível bem acima da média, nesse item. Como também, quem está desempregado, nunca enxergará os números positivos da macro economia!
Mas os candidatos também possuem inúmeros recursos (legítimos ou não) para convencer o eleitor de que são as pessoas certas! E, por óbvio, nem sempre o são! Portanto, a solução para este aparente imbróglio, passa pela vivencia profunda e completa, de todo o processo que envolve a democracia. A escolha consciente e responsável, o exercício do direito e do dever de eleger e o acompanhamento constante do eleito. Tornamo-nos, responsáveis por quem elegemos!
O exercício do mandato exige uma periódica prestação de contas e deve disponibilizar, ao eleitor, os dados essenciais para uma boa avaliação. O diálogo com a base eleitoral, em mão dupla (como qualquer diálogo que se preze!), torna-se imprescindível, para garantir a consistência de todo este complexo processo. Não temos visto muito esse hábito e isso vem conspirando a favor do “voto distrital”. Contudo, enquanto não chegarmos lá, eleitor e eleito, precisam viver o casamento selado na urna!
As Câmaras Municipais revestem-se de extrema importância. É voz corrente de que quem manda é o prefeito, o governador ou o presidente. Ledo engano! As Câmaras são as casas do povo. Ali, nós estamos representados, bem como as nossas demandas. Bater no peito, dizendo que se odeia política ou que “nem sabemos quem elegemos”, é uma bizarrice cara para todos!
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina