Acredite se quiser: nova polêmica acontece no Palácio do Planalto. E não se trata de grandes negócios, programa de privatização nem denúncias de escuta telefônica. Mas da festa de posse do presidente Fernando Henrique Cardoso para o segundo mandato, no dia 1º de janeiro de 1999.
Alheios ao preocupante momento da economia mundial - com gravíssimos reflexos no quadro brasileiro - alguns assessores pensam numa festa em grande estilo, black-tie, pompa e circunstância. Quem sabe um baile depois dos comes e bebes? Para quem está pagando o alto preço da recessão, nada mais ofensivo.
Mas há quem tenha o pé no chão e torça para que a festa seja o mais discreta possível, apenas simbólica. Solenidade simples no Planalto e cumprimentos das missões estrangeiras no Itamaraty. Sem champanhe.
A guerra surda em torno da posse de Fernando Henrique Cardoso reflete a falta de bom senso que impera em alguns departamentos governamentais. Não que o presidente não mereça a festa. Muito menos que não seja digna de comemoração sua vitória em primeiro turno.
Todo triunfo deve ser festejado. Joaquim Roriz também deve solenizar sua volta ao Palácio do Buriti, como governador do Distrito Federal. Mas ninguém desconhece o tamanho da crise brasileira. É extremamente grave, com claros sintomas recessivos. Há milhões de desempregados à espera de um milagre dos governantes.
Desde novembro de 1997, na primeira convulsão asiática - e o primeiro pacote anticrise brasileiro - temos encarado um dos piores períodos da economia em todo o mundo. E, no caso doméstico, não estamos mergulhados apenas nesse problemático quadro econômico-financeiro. Escândalos políticos recentes mancharam - ainda que temporariamente - a imagem do governo.
O caso do grampo dos telefones do BNDES é vergonhoso e quase nada foi explicado. As denúncias estão sendo apuradas, garantem as autoridades. Mas até agora sabe-se apenas que caíram assessores importantes e Fernando Henrique ainda não se recuperou do baque. Aliás, presidente, ministros e aliados nunca mais serão os mesmos depois das denúncias das três últimas semanas. Não são questões superadas. O governo deve satisfação à opinião pública.
O que se espera é que as autoridades e a Justiça apontem e punam os culpados. Devem limpar o caminho para o segundo mandato. Em vez de festa de posse, seriedade, transparência, verdades. Os próximos quatro anos não serão fáceis para o presidente nem para os brasileiros. Perguntas insistentes, aliás, frequentam rodas de políticos, economistas, eleitores, contribuintes. E as respostas, de maneira geral, não são otimistas.
O que vai acontecer em 1999? Como será o ano novo dos brasileiros - dos desempregados ou dos felizardos que têm salário, 13º e FGTS? Como será o penúltimo ano do milênio? A confusão política gerada pelos grampos, dossiês, denúncias com requintes de máfia italiana - escuta telefônica no gabinete do presidente da Repúlica - deixou os brasileiros meio perdidos. Instalou-se desconfiança e insegurança dentro e fora do governo.
Com tudo isso, pensar em festa traz más recordações. Faz lembrar Ilha Fiscal, baile... A Ilha Fiscal, no Rio, foi o palco do último baile da monarquia.
- MIRIAM GUARACIABA é jornalista em Brasília