Por que a situação da segurança pública do Ceará interessa aos outros estados? O Paraná, mesmo a uma distância de mais de 3.000 quilômetros, acompanha com preocupação os dias tensos que os cearenses vivem. Situação que atingiu o máximo da aflição na última quarta-feira (19) quando o senador Cid Gomes, pilotando uma retroescavadeira, tentou furar o bloqueio feito por policiais em greve diante de um batalhão da Polícia Militar, na cidade de Sobral, e acabou sofrendo duas perfurações por arma de fogo.

O clima de insegurança começou com a paralisação dos policiais militares, que reivindicam aumento de salário. Mas esse movimento que já atingiu forças de segurança de outros Estados mostra que muitos governantes estão incapazes hoje de negociar e controlar as suas polícias.

O resultado do impasse é uma onda de violência assustadora. Desde o início do movimento, na terça-feira (18), 51 pessoas foram assassinadas no Ceará. Hoje é registrado um assassinato por hora.

Por causa da instabilidade com policiais militares, ao menos cinco prefeituras do interior cearense decidiram, na sexta-feira (21), cancelar a festa de Carnaval.

Dois ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) criticaram o movimento grevista iniciado pelos policiais militares do Ceará. Alexandre de Moraes afirmou que a paralisação é “ilegal” e “inadmissível”. Para Moraes, que já foi secretário de Segurança de São Paulo e ministro da Justiça, os disparos contra o senador têm consequências tanto na Justiça comum quanto na criminal.

O ministro Ricardo Lewandowski afirmou que é extremamente preocupante uma greve de policiais militares ou qualquer corporação armada. “É constitucionalmente vedado que corporações armadas façam greve".

Em 2017, o plenário do STF decidiu que todos os servidores que atuam diretamente na área de segurança pública não podem exercer o direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, por desempenharem atividade essencial à manutenção da ordem pública.

Não se questiona aqui se a reivindicação salarial dos policiais é justa ou injusta. Esse ponto deve ser discutido e negociado entre executivo estadual e quem representa a categoria. O problema é a situação de motim, com policiais encapuzados percorrendo a cidade em viaturas para intimidar comerciantes, obrigando-os a fecharem as portas dos estabelecimentos.

As armas compradas para assegurarem a segurança da sociedade não podem ser usadas para intimidações e nem em favor apenas daqueles que deveriam usá-las no trabalho pelo bem da comunidade.

Hoje, espera-se das autoridades e dos grevistas um entendimento no sentido de preservar os serviços da área de segurança para que a onda de violência não faça mais vítimas e a população possa ir e vir em paz.

Obrigado por acompanhar a FOLHA!