Não se ouvia tanto a discussão sobre o cuidado com a saúde mental como agora. Num passado muito próximo, se confundia saúde mental com doença mental e pode haver quem ainda os confunda, mas esse mal entendido já foi desfeito. A saúde mental de uma pessoa está relacionada à forma como nós reagimos às exigências da vida e ao modo como harmonizamos seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções. Ter saúde mental, segundo a definição da Secretaria de Estado da Saúde é estar bem consigo mesmo e com os outros; aceitar as exigências da vida; saber lidar com as boas emoções e também com aquelas desagradáveis, mas que fazem parte da vida; reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário. E se não cuidada com esmero, pode ocasionar insalubridade mental, doenças como ansiedade, depressão, fobias, entre muitas outras.

A discussão em torno do assunto se intensificou nos últimos meses, porque a pandemia deixou a saúde mental da população em frangalhos. Sentimentos de luto, ansiedade e depressão se multiplicam. As pessoas se sentem mais sozinhas e incapazes de reagir a um período extenso de dores e medos. E é importante ressaltar que é normal se sentir assim e é preciso procurar ajuda.

No meio de um turbilhão de sentimentos não controlados, ter o humor, raciocínio e comportamento afetados é o sintoma de que a sociedade não vai bem. E, todos temos nossa responsabilidade quanto a isso. Empatia é um dos melhores remédios, se não cura, ao menos ajuda para que os danos à saúde mental não se agravem. E a empatia é o que move iniciativas voluntárias que estão atuando no contra-ataque para minimizar os efeitos tão danosos ao psicológico das pessoas. Uma delas, é tema de matéria publicada em reportagem especial neste final de semana na FOLHA, é o projeto Suporte Psicológico Covid-19, uma iniciativa da UEL que começou no início da pandemia e já soma mais de 400 atendimentos até então.

O projeto atende pessoas maiores de 18 anos que estejam em estado de sofrimento emocional devido à crise pandêmica atual e oferece suporte psicológico. A reportagem conta a história da neuropsicóloga voluntária Michele Marcondes dos Reis que iniciou o voluntariado para ajudar outras pessoas que estavam vivendo o drama que ela mesma viveu. Michele enfrentou a luta contra a Covid-19 ao lado do marido que chegou a ficar 45 dias em ventilação mecânica. A história dela ajuda pessoas que hoje estão face a face com o medo do contágio, do retorno à vida após a enfrentar a doença e ainda aqueles que precisam se reencontrar após uma perda de um ente querido.

Michele compara esse período que estamos vivendo de guerra pela saúde mental. Uma guerra contra os efeitos colaterais desse luto individual que, amalgamados às quase 550 mil famílias que estão em luto hoje no Brasil, é um luto coletivo e afeta a todos nós. É preciso pedir ajuda, ajudar e ser ajudado. Ouvir e estar atento aos que estão ao lado sofrendo em silêncio. Juntos somos mais fortes.

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