Risco climático é risco financeiro e sua empresa pode ser afetada
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 05 de dezembro de 2023
Laurine Delfino
Muito se tem falado sobre as grandes catástrofes climáticas, a elevação da temperatura (que temos sentido na pele literalmente) e sobre a seca rigorosa. Mas, ainda assim, as pessoas têm dificuldade para entender o porquê é necessário (e urgente) adotar medidas efetivas para a redução de emissão de gases de efeito estufa, os grandes responsáveis pelo tal aquecimento global e por todas essas mudanças climáticas.
Nesse sentido, é importante entender que o risco climático é um risco financeiro. Um risco financeiro para os indivíduos e, sobretudo, para as empresas.
No mês passado, foi publicado um estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) que indicou que o setor do agronegócio perdeu 3,8 trilhões de dólares em razão das catástrofes climáticas ocorridas entre 1991 e 2021.
Em 2019, o Fórum Econômico Mundial publicou um relatório denominado “How to Set Up Effective Climate Governance on Corporate Boards”, que apresentou uma estimativa de que, entre 2019 e 2100, as perdas financeiras potenciais decorrentes das mudanças climáticas poderão variar de 4,2 trilhões a 43 trilhões de dólares, em comparação com um estoque global total de ativos gerenciáveis no valor de 143 trilhões de dólares. Essa perda é muito relevante e gera efeitos negativos a todo o planeta.
Não é à toa que, no Brasil, o setor financeiro, na figura de seu agente regulador, o Banco Central do Brasil, compreendendo esse risco e reconhecendo que se trata de um risco prudencial, ou seja, um risco que pode afetar todo o sistema financeiro, começou a criar normas que exigem que as instituições financeiras gerenciem e monitorem o risco climático como uma variável do risco financeiro e do risco de crédito. Para tornar mais palpável: se um cliente que planta soja deixa de pagar um financiamento porque uma catástrofe climática acabou com sua lavoura, a instituição financeira que concedeu o financiamento tem que registrar contabilmente essa perda - identificando que ela decorreu de um risco climático - e monitorá-la. Agora, se não apenas 1, mas 1000 clientes que tomaram financiamento deixam de pagar as prestações porque uma catástrofe climática prejudicou o negócio deles, o financiador sente esse impacto em seu fluxo de caixa.
A Itaú Asset Management, no final de 2021, criou uma ferramenta para calcular o impacto da mudança climática sobre o valor de mercado e o Ebitda das empresas. Numa simulação com a carteira do Ibovespa, a Itaú Asset concluiu que o Ebitda consolidado das mais de 60 empresas avaliadas tendiam a zero até 2050. Lembrando que o Ebitda é o lucro obtido antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização. Pelas contas, na hipótese de não fazerem nada para se adaptar à emergência climática, o conjunto dessas empresas deixariam de gerar resultados em 30 anos!
Essa ferramenta definiu 6 ‘drivers climáticos’ ou impactos: precificação de emissões de CO2, mudanças no ciclo hidrológico, iniciativas de ecoeficiência, danos físicos causados por eventos climáticos extremos, produção agrícola e florestal e novos produtos e mudanças no padrão de consumo.
São inúmeros os exemplos que demonstram que mudanças climáticas geram risco financeiro. E esse olhar sob o viés do risco é fundamental para as empresas se manterem vivas a longo prazo no mercado. Como a escassez de água pode impactar no seu negócio? Como a falta de energia elétrica pode afetar sua produção? Essas são perguntas que os empresários têm que começar a se fazer para entender a que risco seu negócio está exposto. A revisão do modelo de negócios é necessária e urgente.
Laurine Delfino, advogada do escritório NMP, em Londrina
***
Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.
COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]