Nos últimos meses, a humanidade teve que se adequar a uma nova realidade. Nunca o simples fato de sair de casa para caminhar e contemplar os cenários que a natureza nos proporciona nos foi uma tarefa tão árdua, tão cheia de protocolos. O medo e a incerteza têm se tornado tópicos comuns em rodas de conversa e noticiários. Novas preocupações levam a novos hábitos.

No entanto, tais mudanças não foram observadas somente em nossas rotinas. A natureza também se mostra em reformulação durante este período de isolamento social, tornando-se um alívio em um momento tão turbulento.

Victor Hugo, romancista francês do século XIX, uma vez disse que é triste pensar que a natureza fala, mas não somos capazes de ouvir. Locais, antes ocupados majoritariamente por seres humanos, passaram a ser frequentados pela vida selvagem; paisagens e canais, ora poluídos pela ação antrópica, tornaram-se visíveis em toda sua plenitude, como a cordilheira de Dhauladhar, no Himalaia, e os canais venezianos na Itália, ambos proporcionando um verdadeiro espetáculo que há muito não se via.

Com a redução de atividades industriais e tráfego humano, tanto aéreo, quanto terrestre, observou-se uma redução significativa nas emissões de gases do efeito estufa. Na China, epicentro inicial da pandemia, por exemplo, os níveis de dióxido de carbono (CO2) caíram cerca de 25%, segundo dados do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, sediado nos Estados Unidos.

Isto nos mostra a capacidade de regeneração que o Meio Ambiente apresenta quando lhe são fornecidas oportunidades para tal. E estas não foram poucas. Periodicamente, discute-se essa potencial - e frágil - resiliência em reuniões conduzidas pela Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, com a presença de várias nações. Foi em uma dessas convenções que se originou o protocolo base para redução de emissão de gases do efeito estufa, o Protocolo de Kyoto.

No Brasil, em Junho de 2012, ocorreu a Rio+20, evento que retomou os compromissos apresentados na Cúpula da Terra, em 1992, quando foram estabelecidos princípios e metas para um desenvolvimento sustentável no século XXI. Tristemente, o século XXI chegou e, tanto no Brasil, quanto no mundo, poucas destas metas foram atingidas.

Somada à falta de comprometimento que algumas nações apresentam quanto a seguir o que foi firmado em protocolos, há a exploração indiscriminada do Meio Ambiente, motivada por questões econômicas e culturais. E, embora, haja muito para comemorarmos, há muito com o que nos preocuparmos.

Neste momento em que todo cuidado é pouco, o descarte inadvertido de máscaras e luvas de proteção revelou-se como uma potencial fonte poluidora a longo-prazo. Ainda, da mesma forma como observado após períodos de recessão, existe o risco inerente do aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera, consequência do reinício das atividades industriais e antrópicas, advindo da necessidade da recuperação da economia dos países afetados. Dessa forma, mais uma vez, fragiliza-se o recém recuperado Meio Ambiente.

Coincidentemente, este ano comemoramos o 50º Dia da Terra, e hoje, 05 de Junho, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, datas significativas em um ano em que a Terra provou que pode se regenerar mais uma vez. Infelizmente, as mudanças que a natureza tem apresentado não serão permanentes, uma vez que dependemos, em grande parte, de combustíveis fósseis e recursos naturais para a economia girar. Contudo, é certo que a pandemia que nos atingiu acendeu em todos uma centelha para uma nova percepção ambiental, mais sustentável e menos consumista.

A Terra e o Meio Ambiente já se mostraram naturalmente resilientes várias vezes e, agora, cabe a cada um de nós ajudar nessa empreitada, por que como disse o teólogo e filósofo alemão Albert Schweitzer, “Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo.”

Bruno Henrique Martins, professor dos cursos de química e agronomia da Unopar, doutor em química analítica pela USP