Ao caminhar pelas ruas da histórica Oxford (Inglaterra), ficava impressionado com a permanência do casario e continuidade de uso do mobiliário urbano. A destacar os tradicionais bancos de madeira, de design simples e elegante. Havendo necessidade de substituição, devido ao desgaste natural ou avaria, um banco idêntico é instalado no mesmo local. Só o contraste da pátina de madeira, clara ou enegrecida, lado a lado, permite perceber a substituição. Ninguém fala ou pensa em “releitura” ou considera isso “falso histórico”.

Em Londrina, o mobiliário “antigo” do Calçadão de 1977 segue sendo reutilizado por aí. Seguem espalhados em pátios de órgãos públicos ou em depósitos. Anos atrás, em reunião de patrimônio, houve proposta do resgate desses quiosques, bancos e luminárias araucária originais. Recuperar o Calçadão em frente ao Ouro Verde. Na época, havia sido iniciada a localização e identificação desse material.

Agora ouvimos o zum-zum de que o projeto da Praça Willie Davids será “releitura” do projeto do Calçadão de Lerner (1977). Palavras tem peso e significado multifacetado.

É preciso estar atento. A memória de Londrina é fugidia. Existiu um projeto de praça anterior ao Calçadão de Lerner. O levantamento aerofotogramétrico de Londrina (1950) mostra o conjunto Praça da Matriz e canteiros triangulares que completavam a elipse da Planta Inicial. Os canteiros triangulares então renomeados como Praças Willie Davids e Gabriel Martins, faziam composição com a Praça Marechal Floriano remodelada (1943).

A Marechal Floriano agora tinha traçado em “forma de bandeira do Reino Unido”. As praças Willie Davids e Gabriel Martins apresentavam traçado em “forma de tridente ou fragmentos da bandeira”, símbolo maior. Além disso, peti pavê, bancos bola e topiaria eram partes da linguagem comum. Evidenciam sincronicidade.

Uma boa cidade é resultado da sobreposição de camadas reconhecíveis. “Releituras” são, ao mesmo tempo, desafio e risco.

Humberto Yamaki, arquiteto

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