Quem irá botar o guizo no gato?
A imagem que vem de Washington é de Gothan City tomada pelos vilões
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terça-feira, 21 de janeiro de 2025
A imagem que vem de Washington é de Gothan City tomada pelos vilões
Ricardo Dias Silva

Não, não está tudo bem. No último dia 20 de janeiro, tomou posse na presidência da nação mais poderosa do planeta um antidemocrata, reconhecido por seu posicionamento racista, homofóbico, xenofóbico, armamentista e negacionista das mudanças climáticas – retirou pela segunda vez os EUA do Acordo de Paris. Há quatro anos, ao perder a eleição, como uma criança mimada acusou, sem provas, a existência de fraude eleitoral e incentivou atos de violência que resultaram em depredação do patrimônio público e em mortes (ao tomar posse do cargo, deu indulto aos criminosos). Não respeitou a escolha popular, em 2021, e deixou de comparecer a posse do presidente eleito – a similaridade com o que aconteceu por aqui não é mera coincidência.
Crítico contundente das políticas de inclusão social, deixou claro que as irá extinguir e impor a meritocracia como regra para a ascensão social, ou seja, ganha mais quem for mais forte, independente do contexto em que vivem as pessoas e quais ferramentas possuem para lutar. Em seu primeiro dia como presidente, se achou no direito de estabelecer que só haverá o gênero feminino e o masculino, ou seja, ou você é como ele, ou não existe. Sua política é excludente, autoritária e agressiva, do tipo eu mando e vocês obedecem. Os negros são vistos como inferiores, os estrangeiros como adversários e as mulheres como coadjuvantes. Os recursos naturais devem servir para produção de riqueza para quem tem dinheiro para os explorar e não como bens da humanidade.
Nos últimos dias, disse que irá tomar territórios de outras nações e usará a força econômica e bélica para impor o desejo americano, ou seja, o seu, aos demais cidadãos do mundo. Sob suas asas, homens que detêm mais dinheiro e poder do que muitos países comemoram o fato de que com a sua proteção poderão passar por cima das leis e da soberania das nações para fazerem o que quiserem. Ao seu lado, políticos de extrema direita do mundo todo, como ratos que vivem das sobras, comemoram a ascensão da barbárie que lhes possibilita amealhar moedas e vidas alheias. Até mesmo cumprimentos nazistas voltaram a ser utilizados sem o menor constrangimento. A imagem que vem de Washington é de Gothan City tomada pelos vilões. E pelo silêncio de todos, a impressão é que o Batman está morto e que ninguém poderá deter o agente laranja.
Alguém precisa ter coragem e colocar o guizo no gato, dizer que o rei está nu e que é preciso resistir a tamanha violação dos direitos humanos, dar um basta, caso contrário, entraremos num dos piores períodos da história, caracterizado pela violência contra as minorias, a expansão de conflitos bélicos, a imposição econômica de pessoas sobre nações, a proliferação de governos fascistas, a institucionalização da mentira, o fim da justiça e a exaustão do planeta. Para evitar o Apocalipse, uma Liga da Justiça precisa, urgentemente, ser instituída, antes que seja tarde demais. Com meu corpo franzino e parcas pedrinhas na mão, me alinharei a esses heróis que ainda não são vistos no horizonte.
Ricardo Dias Silva, professor associado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UEM (Universidade Estadual de Maringá), membro do programa Associado de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo UEM-UEL- PPU e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Habitação e Assentamentos Humanos - LAPHA.

