Não, não está tudo bem. No último dia 20 de janeiro, tomou posse na presidência da nação mais poderosa do planeta um antidemocrata, reconhecido por seu posicionamento racista, homofóbico, xenofóbico, armamentista e negacionista das mudanças climáticas – retirou pela segunda vez os EUA do Acordo de Paris. Há quatro anos, ao perder a eleição, como uma criança mimada acusou, sem provas, a existência de fraude eleitoral e incentivou atos de violência que resultaram em depredação do patrimônio público e em mortes (ao tomar posse do cargo, deu indulto aos criminosos). Não respeitou a escolha popular, em 2021, e deixou de comparecer a posse do presidente eleito – a similaridade com o que aconteceu por aqui não é mera coincidência.

Crítico contundente das políticas de inclusão social, deixou claro que as irá extinguir e impor a meritocracia como regra para a ascensão social, ou seja, ganha mais quem for mais forte, independente do contexto em que vivem as pessoas e quais ferramentas possuem para lutar. Em seu primeiro dia como presidente, se achou no direito de estabelecer que só haverá o gênero feminino e o masculino, ou seja, ou você é como ele, ou não existe. Sua política é excludente, autoritária e agressiva, do tipo eu mando e vocês obedecem. Os negros são vistos como inferiores, os estrangeiros como adversários e as mulheres como coadjuvantes. Os recursos naturais devem servir para produção de riqueza para quem tem dinheiro para os explorar e não como bens da humanidade.

Nos últimos dias, disse que irá tomar territórios de outras nações e usará a força econômica e bélica para impor o desejo americano, ou seja, o seu, aos demais cidadãos do mundo. Sob suas asas, homens que detêm mais dinheiro e poder do que muitos países comemoram o fato de que com a sua proteção poderão passar por cima das leis e da soberania das nações para fazerem o que quiserem. Ao seu lado, políticos de extrema direita do mundo todo, como ratos que vivem das sobras, comemoram a ascensão da barbárie que lhes possibilita amealhar moedas e vidas alheias. Até mesmo cumprimentos nazistas voltaram a ser utilizados sem o menor constrangimento. A imagem que vem de Washington é de Gothan City tomada pelos vilões. E pelo silêncio de todos, a impressão é que o Batman está morto e que ninguém poderá deter o agente laranja.

Alguém precisa ter coragem e colocar o guizo no gato, dizer que o rei está nu e que é preciso resistir a tamanha violação dos direitos humanos, dar um basta, caso contrário, entraremos num dos piores períodos da história, caracterizado pela violência contra as minorias, a expansão de conflitos bélicos, a imposição econômica de pessoas sobre nações, a proliferação de governos fascistas, a institucionalização da mentira, o fim da justiça e a exaustão do planeta. Para evitar o Apocalipse, uma Liga da Justiça precisa, urgentemente, ser instituída, antes que seja tarde demais. Com meu corpo franzino e parcas pedrinhas na mão, me alinharei a esses heróis que ainda não são vistos no horizonte.

Ricardo Dias Silva, professor associado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UEM (Universidade Estadual de Maringá), membro do programa Associado de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo UEM-UEL- PPU e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Habitação e Assentamentos Humanos - LAPHA.