Projetos sensíveis
PUBLICAÇÃO
sábado, 18 de fevereiro de 2023
Humberto Yamaki
Outros tempos. A Praça Rocha Pombo em Londrina foi tombada em 1974. A justificativa: “Dar boas condições de visibilidade à Estação Rodoviária de Londrina”. A praça, o primeiro chão de quem chegava a Londrina, parte da Planta Inicial de Razgulaeff (1932) era considerada um acessório.
Está em discussão a pintura da rampa da Praça Rocha Pombo. Pois, essa gigantesca rampa ornada com luminárias “tipo antiga” é coisa de passado recente. Foi implantada com o discurso da acessibilidade. Na época havia a contra argumentação de que as calçadas das avenidas Rio de Janeiro e São Paulo eram alternativas viáveis de acesso ao Museu. Ainda assim a rampa foi construída. Pouco depois abandonada. As heras cuidaram de cobrir o conjunto.
Uma análise da relação museu e praça mostra que as pequenas escadarias, existentes antes da rampa atual, valorizavam o volume da rodoviária e o muro de arrimo em pedra. Portanto as rampas, agora amarelas, poderiam ser retiradas.
A insistência na acessibilidade a qualquer custo também foi aplicada recentemente na Praça Dom Pedro II, no Shangri-lá. O discurso dos acessos e segurança fez com que destruíssem o Morro do Shangri-lá. Ponto mais alto do loteamento que fora preservado pelo arquiteto Leo Ribeiro de Moraes no projeto inicial..
Estive recentemente em Portugal. Visitei o Castelo de Montemor-O-Velho, localizado no alto de um morro, no Baixo Mondego, Portugal Central. Faz parte da histórica rede de Castelos e Muralhas do Mondego. Tem projeto de requalificação do arquiteto Alvaro Siza.
Há alguns anos instalaram uma escada rolante de acesso ao alto. Projeto do arquiteto Miguel Figueira, da Câmara local. O caminho de aço vai costurando delicada e meticulosamente o casario. Quase invisível. Chega ao alto onde está localizado o castelo medieval e a capela de Santo Antônio. Permite o acesso de idosos e comunidade. A escada rolante recuperou as atividades religiosas. Com isso, a vitalidade do vilarejo.
“Imaginar um futuro a partir do passado. Criação de novas relações, usos e lugares. Resgatar a centralidade.” (Baía, Lopes, 2013)
Intervenções poderiam ser assim. Sensíveis. Meticulosamente trabalhadas.
Humberto Yamaki, Coordenador do Laboratório de Paisagem UEL

