Professoras e esponjas de aço
PUBLICAÇÃO
domingo, 19 de março de 2023
L.R. Silva
Ouvi de um professor de história, certa vez, a seguinte frase: “A humanidade é africana”. Pronto, está tudo explicado nesse único aforisma. Somos africanos, eu, você leitor, seu vizinho influencer loiro de olhos azuis do condomínio, o motorista negro do Uber correndo atrás da sobrevivência, a mulher que empurra um carrinho de papelão com a filha pequena pelas ruas, o presidente, o padre, o pastor, o dono de vinícola, a vendedora de calçados do centro, o milionário da Gleba, os indígenas, os vikings, os indianos, os chineses, os esquimós, os marroquinos, os ingleses, os socialistas, os liberais, os teocráticos, os professores e os alunos, Maomé, Buda, Jesus… não escapa um. Todo mundo é africano.
A África, mais precisamente o leste, é o berço da humanidade, como mostram as evidências até então. Acabamos por desenvolver um cérebro que nos dá grande capacidade de raciocínio, abstração e criação. Somos projetados para pensar, mas por que pensamos errado? Por que sucumbimos à necessidade de fazer piadas étnicas, com aparência, com condição financeira, com a roupa, ou com a profissão de outra pessoa? Que desejo podre é esse de ofender acreditando que vai “mitar”?
Graças à nossa capacidade de criar, temos cultura, temos ideias, temos sentimentos e empatia. Não deveríamos cair nas garras de ideologias fascistas, racistas, machistas, sexistas, homofóbicas, excludentes. Por que humilhar, se podemos respeitar? De acordo com o “Human Origins Program” (Programa Origens Humanas) do Museu Nacional de História Natural da instituição norte-americana Smithsonian, havia pouco mais de 15 espécies humanas antes do aparecimento do humano moderno, o homo sapiens, ou seja, nós. Porém, só sobrou a gente para desenterrar, entender e contar a Hhistória, justamente por termos vantagem cerebral ante nossos parentes do passado.
Nós, os seres capazes, que repetimos preconceitos a torto e a direito sem sequer pensar nas consequências à outra pessoa. Nós, o homo sapiens. Os pais homo sapiens precisam entender que quem dá educação aos filhos homo sapiens são eles, não a escola. Nós, homo sapiens, capazes de entender a relatividade, elaborar profundidades filosóficas, conceber vida após a morte, lançar satélites no espaço, esmiuçar fósseis, mapear genomas, precisamos também ser capazes de empatia e acolhimento. Caso contrário, podemos voltar a viver em cavernas e lutar com outras tribos pela caça de um mamute, pela pele de leões e lobos, pela gordura dos javalis.
Temos que mostrar que somos evoluídos ao ponto do aluno que entregou uma esponja de aço a uma professora negra ser punido exemplarmente, assim como os pais responderem pelo racismo e machismo do filho. Pois, progresso sem humanismo é oficina do diabo.
L.R. Silva, escritor

