As raízes de problemas como desigualdade, baixa participação política, baixa segurança pública, por entre outros, aparentam ser tão profundas que uma solução realmente efetiva parece cada vez mais distante. Lidar com esses problemas acaba por dar muito trabalho, por serem muito complexos e seus resultados serem pensados apenas a longo prazo. Por mais que soluções pontuais sejam levadas em conta, elas não conseguem, muitas vezes, resolver o problema inteiro. Entretanto, um novo método, de natureza sistêmica, tem sido empregado, com o objetivo de solucionar problemas como esses, de grandes proporções.

Trata-se do Impacto Coletivo, metodologia de ação que surge como resposta a esses problemas. A metodologia leva em consideração a colaboração enquanto meio de resolver problemas, casando-a a uma perspectiva sistêmica. A norte-americana FSG Consulting, que desenvolveu esse conceito, validado no exterior e com vários casos de sucesso, leva como premissa que problemas sociais complexos e sistêmicos não podem ser solucionados com ações isoladas e/ou pontuais. Para isso, propõe cinco passos a serem adotados: criação de uma agenda comum, medição compartilhada, ações que se reforçam mutuamente, comunicação contínua e consolidação de uma organização que ofereça suporte às outras envolvidas. Esses passos, quando bem aplicados, surtem efeito.

No ano de 2009, em Los Angeles, Califórnia, o bairro Boyle Heights era tido como uma das regiões com piores indicadores, em termos de desenvolvimento econômico, taxas de desemprego, escolaridade e índices de violência. Quando o Promesa Boyle Heights, coletivo de membros da comunidade, passou a engajar professores, alunos, pais, comunidade e governo, sendo uma organização suporte, o trabalho pautado na colaboração e na metodologia de impacto coletivo endereçou e melhorou a infraestrutura e os níveis educacionais locais. Por meio de entrevistas com mais de 4.000 residentes e de ações em conjunto, os resultados foram perceptíveis. Novas escolas foram abertas e houve grande aumento de entrada de alunos no ensino superior. Uma das escolas de ensino médio da região, Mendez, se tornou a melhor da Califórnia de acordo com o Academic Performance Index, em 2013.

Curitiba, por sua vez, tem demonstrado baixos índices de confiança interpessoal e de colaboração. Isso é o que evidencia o Índice de Democracia Local, pesquisa realizada pelo Instituto Sivis, em 2017. Somente 15,8% dos entrevistados apontaram confiar em pessoas que não fossem seus familiares ou amigos. O Índice mostra também que 77,4% das pessoas que vivem em Curitiba nunca participaram de protestos, manifestações e assinaturas em abaixo-assinados, e que 72,3% das pessoas não votariam caso o voto não fosse obrigatório, de acordo com o Índice de Democracia Local.

Tal como Promesa Boyle Heights, desenhou-se o programa Cidade Modelo, em Curitiba, com o intuito de compreender as raízes da cultura democrática curitibana e de realizar ações colaborativas com diversas lideranças multissetoriais da cidade. Busca justamente endereçar o problema da confiança e da falta de colaboração em nossa sociedade. Reuniões, então, foram convocadas para diagnosticar os principais fatores que afetam esse problema; e, a partir disso, uma Agenda Comum para Curitiba foi construída, juntamente com uma organização suporte, o Instituto Sivis, para o fortalecimento da cultura democrática na cidade.

Foi dado o primeiro passo para o impacto, com base na construção de pontos em comuns através da visão de diversos atores da cidade. A partir de então, grupos de trabalho serão montados para a implementação de três principais linhas de ação, determinadas pela Agenda Comum: valorizar a cultura local, cultivar cidadãos preparados para democracia e promover o florescimento de lideranças. É nesse contexto que o Impacto Coletivo surge como uma resposta concreta para problemas como os de Curitiba. Para problemas complexos, assim, precisamos de soluções complexas – e está na hora de realizá-las.

Jamil Assis, Relações Institucionais no Instituto Sivis e Gestor do Programa Cidade Modelo.

Sara Lopes Clem, estagiária no Instituto Sivis e estudante de Relações Internacionais na Universidade Positivo